quinta-feira, junho 30, 2005

O horrível senhor Blair, no DN

Interessante, esta opinião, publicada no DN, que tive o prazer de recuperar para deleite da passarada.
Porque será que as coisas simples são raras ao alunos pretensamente sabedores?
A perda dos protagonismos, debaixo da capa das teimosias de carácter histórico, a maior parte das vezes ligadas a chauvinismos sempre bacocos e a interesses mais bacocos ainda - os deles, só -, resulta em impasses que só liquidam o verdadeiro interesse das gentes que procuram o seu melhor modo de vida - seja ele qual for.

Injustiça social

(É um post atrasado, mas ainda faz todo o sentido)

A nova Lei das Rendas, mais que o aumento do IVA, mais que a criação de um novo escalão de IRS para uma suposta classe social alta, é um ataque cerrado à classe média.

Com esta lei do secretário de Estado Eduardo Cabrita, o Governo quer evitar "rupturas sociais", pensando nos idosos e cidadãos com rendimentos mais baixos, mas, de facto, o que defende acaba por ser a manutenção de uma das maiores injustiças sociais de Portugal.

Explicando.

Não podemos esquecer que os contratos de arrendamento urbano estabelecidos antes de 1990 são abrangidos por um regime jurídico criado por Salazar. Há 400 mil casas ou apartamentos por esse país fora que continuam a pagar rendas de 20/30 euros por imóveis, por exemplo, por tipologia T3, T4, T5 ou T6 no centro de cidades como Lisboa ou Porto. Esses contratos podem ser transmitidos de pais para filhos, sendo possível - como atestam os milhares de casos desses - eternizar o contrato sem que o valor da renda seja actualizado. Pior: existem muitos senhorios que foram obrigados pelo tribunal a realizarem obras de milhares de contos com rendas de 20 ou 25 euros mensais por cada fracção. Isto faz sentido? Não.
O lado mais surrealista deste dossiê é precisamente o facto de muita gente que paga esses valores residuais ter rendimentos mensais superiores à média nacional.

A primeira consequência é não existir mercado de arrendamento em Lisboa e nas restantes cidades portuguesas, o que faz com que as rendas contratualizadas depois de 1990 estejam estupidamente inflaccionadas, chegando a ultrapassar valores acima dos 100 por cento, ficando os encargos mensais do arrendamento ao mesmo nível de um crédito para compra. Isto faz sentido? Nenhum.

A segunda consequência é fácil de adivinhar: o portugueses endividam-se bárbaramente para comprar habitação , fazendo com que Portugal seja o país da União Europeia com maior percentagem de casa própria tendo em conta o número de habitantes do país. Extraodinário, não é?

Pode-se dizer que o Governo de Santana Lopes teve todos os defeitos do mundo, mas a nova Lei das Rendas que deixou pronta era mais justa do que aquela agora apresentada. A Lei feita por José Luís Arnaut - sinceramente, nunca pensei elogiar este homem - foi rapidamente, e de forma injusta, apelidada de lei dos despejos. Porquê? Porque agilizava e acelerava as penalidades em caso de incumprimento. Ou seja, agora, caso alguém se recuse a pagar 25 euros mensais, o proprietário leva anos até conseguir que o inquilino lhe pague a renda, sem que o possa por na rua. Com a lei de Arnaut, o proprietário passava a ter meios eficazes que podia accionar em caso de incumprimento. É justo, não? Não paga, vai para a rua.
Na mesma lei, os idosos ou pessoas com o salário mínimo nacional tinham direito a um tecto de aumento e a um período de transição.

Injustiça social - parte 2

Eduardo Cabrita, mandatado por António Costa, ignorou tudo o que escrevi atrás e mantém tudo como está. Tudo igual, não. A proposta de lei prevê uma "forma expedita" de passar à "fase executiva", ou seja, ao despejo em caso de incumprimento. Não diz é a forma. Ora bolas, a forma, neste caso, é mais importante que o conteúdo.
Mas o lado mais importante da nova lei, é a fase de transição de 5 anos ou de 10 anos - consoante os rendimentos dos inquilinos - e o tecto de 50 euros para o aumento no primeiro ano e 75 euros nos restantes. Estes tectos são profundamente ridículos. Não resolvem nenhum prolema social e só adiam a resolução de umas das maiores causas para a desigualdade social da sociedade portuguesa.
Mais rídiculo ainda é extender estes tectos aos arrendamentos comerciais. Pequenos comerciantes que pagam rendas com datas de 1940 vão ser aumentados em 50 euros por mês, quando têm uma actividade comercial que lhes permite sustentar aumentos superiores. É uma forma de subsídio artificial, com a assinatura de Eduardo Cabrita, às empresas nacionais.
As regras mais elementares e básicas de uma economia de mercado não são respeitadas por esta proposta de lei. Esta sim é uma lei verdadeiramente socialista ao impôr ao mercado as regras do Estado.
A maior injustiça social é o facto de, em nome de uma minoria social como os idosos, a classe média ser obrigada a sustentar rendas especulativas que levam as pessoas ao endividamento. Os cidadãos com mais de 65 anos têm direito a ter um regime especial consoante os seus rendimentos, mas isso não pode fazer com que o mercado nao funcione de todo, como é e continuará a ser o caso.
Enquanto não existir uma verdadeira lei das rendas, e este é que o ponto, não haverá mercado de arrendamento e, por arrastamento, os preços super-especulativos do mercado de compra de habitação continuarão porque serão susutentados por uma procura que considera mais racional pagar uma renda ao banco e ficar com a casa, do que pagar o mesmo valor a um proprietário.
Esta é que a justiça social do Governo de José Sócrates?

quarta-feira, junho 29, 2005

Ligação à terra!

Numa altura em que tanto se fala de mortes de gente célebre (por variedade de razões), não custa nada uma pequena ligação à terra dos homens:

Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram.
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Álvaro de Campos (26-4-1926)

Portugal e a 'vaca'


Bem lá no fundo, esta é a 'vaca' que Portugal precisa de ter para se aguentar nesta fase de crise e para se safar da subida das taxas de juro e da sua condição de país de alto risco - no que toca a emprestar dinheirito!
Esta é a 'vaca' à procura de erva (olha a seca, até nem escapam as balizas); no outro lado do campo (ou será do mesmo lado) estão os portugueses a pedir aos céus um milagre.
É o chamado 'encontro com a natureza de cada um'!

Foto Público, Nuno Veiga/Lusa


terça-feira, junho 28, 2005

Habemus Papa: Amoras!

Democracia com limites

Recomenda-se uma pequena visita ao blogue preferido da extrema-esquerda para aferir o espírito democrático de um dos principais dirigentes do Bloco de Esquerda, Daniel Oliveira. Aparentemente, o ex-assessor de imprensa do Bloco está de saída do blogue por si criado por discordar da opinião - legítima e, digo eu, acertada - de um dos barnabés mais recentes, Bruno Cardoso Reis.
Talvez o melhor seja citar o Daniel: "O Barnabé era para mim um espaço de opinião alternativo, que debatia com outros e se batia pela hegemonia da linguagem política e cultural. Um espaço plural, mas um espaço. Dirão: plural, mas com limites? Exactamente! Plural o suficiente para contrariar as tendência monolíticas de toda esquerda, com os limites suficientes para ser mais do que uma tertúlia"
Imaginem o Bloco no poder...

segunda-feira, junho 27, 2005

Um sério aviso

Um sector importante do Ministério Público, representado por Alberto Pinto Nogueira, ex-número 2 da Alta Autoridade Contra a Corrupção e actual procurador-geral adjunto na Relação do Porto, lança um sério aviso ao ministro da Justiça, via Grande Loja Queijo Limiano.
Alberto Costa que se cuide.

O único blogue com digitoon

Um pouco mais abaixo, o Pirlito d'Areia pergunta se "um cartoon digital é um digitoon?". Sinceramente, eu acho que sim.

É mais uma mais-valia dos "Pássaros". Além de termos o fantástico cartoon do "Pirlito d'Areia", da autoria do nosso Roger, também criamos um novo género blogosférico: o digitoon.

Uma pequena recomendação para quem nos visita à pouco tempo: procurem e vejam o digitoon do Pirlito. Até agora são 29 tiras que vale a pena ler, apreciar e chorar por mais. Por muito mais.

Um bom exemplo de imparcialidade jornalística

"Facto nunca visto numa conferência de imprensa europeia, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, foi aplaudido várias vezes por largas centenas de jornalistas no final da cimeira de líderes da União Europeia que terminou na madrugada de sábado com o fracasso das negociações orçamentais comunitárias".
"Os aplausos transformaram-se em verdadeiras ovações na quarta-feira, no Parlamento Europeu, antes, durante e no final do seu discurso de apresentação aos eurodeputados do balanço do seu semestre na presidência rotativa da UE que termina a 30 de Junho". (...)
Excerto de uma notícia de Isabel Arriaga e Cunha no "Público" de 24 de Junho

Este é um comportamento verdadeiramente vergonhoso. Elucidativo, é o facto de a repórter do Público comparar e ligar "os aplausos" de jornalistas - isto é, de mediadores, supostamente independentes, entre Juncker e a Opinião Pública - às ovações dos eurodeputados.
Não são a mesma coisa, porque são dois tipos de agentes com responsabilidades e competências diferentes e, às vezes, opostas.
Os jornalistas informam a Opinião Pública sobre a actividade dos agentes e protagonistas europeus. Logo, os "aplausos" dos jornalistas não podem ter como continuação as "ovações" do parlamentares.
Os "aplausos" são eticamente reprováveis. Não está propriamente em causa uma declaração forma de guerra entre a Grã-Bretanha e a Alemanha ou o fim da União Europeia. Uma coisa é Juncker merecer simpatia de quem conviveu profissionalmente com ele durante 6 meses. Outra coisa é exteriorizar sentimentos pessoais, colocando em causa a imparcialidade a que os jornalistas estão obrigados.

Os jornalistas não podem transformar-se em agentes e/ou actores políticos. Caso contrário, deixam de ser jornalistas, para passarem a ser simples membros de uma claque futebolística.

Este episódio deixa a dúvida sobre a independência e a imparcialidade que os jornalistas/correspondentes, sejam de que nacionalidade forem, sedeados em Bruxelas têm para acompanhar a vida dos diversos órgãos da União Europeia situados na capital belga, no Luxemburgo ou em Estrasburgo.

O que será que o meu caro DD e Paulo Gorjão - bloger sempre atento ao jornalismo que se pratica em Portugal e no resto do Mundo - pensam sobre esta atitude dos "eurojornalistas"?

domingo, junho 26, 2005

Diálogos imagináveis

Acabei de passar por um Volkswagen Touareg conduzido por Ricardo Araújo Pereira (RAP). No outro dia, aconteceu-me o mesmo com Paulo Portas. Não sabia que duas pessoas tão diferentes tinham carros exactamente iguais: o mesmo modelo, a mesma côr preta, os mesmos estofos creme, o mesmo porte.
Se Portas e RAP têm o mesmo carro, isso só pode querer dizer que o bloquista e ex-comunista ou já teve ou vai ter um Jaguar. Porquê? Por uma razão muito simples: ambos conduzem mal e porcamente.

Já imaginaram - e eis uma dica com direitos de autor para uma revista ou suplemento automóvel da nossa praça - os dois a serem entrevistados em simultâneo sobre o "seu" Touareg?

RAP - ó pá, este Touareg é melhor que um camelo. É super-confortável, veloz e tem um lado anfíbio que desperta a curiosidade das míudas. Qual é a tua posição de condução preferida?

Portas - Essa é uma pergunta fácil, meu caro. Adoro sair do Parlamento, tirar a minha gravata laranja comprada na Via Condoti, desapertar os primeiros quatro botões da minha camisa branca, abrir o vidro, pôr o carro em andamento e sentir o vento a despentear o meu cabelo aloirado queimado pelo sol argentino.
RAP - Cool! Olha lá pá, o que quer dizer SUV?

Portas - Mais outra fácil: Sempre Unidos na Vitória. É o lema do CDS.

RAP - E eu a pensar que isso era um exclusivo dos meus ex-camaradas.

sábado, junho 25, 2005

Kafka

Inspirado por estes senhores, nada como citar Kafka para compreender a mentalidade da Administração Pública portuguesa:
"Este senhor é encarregado de informações. Presta aos interessados que aqui esperam todas as informações de que eles necessitam; e olhe que presta bastantes, pois a nossa justiça não é muito conhecida entre a população (...)
Esta não é a sua única vantagem; tem outra: a maneira elegante como se veste. Nós, isto é, os funcionários, concordamos uma vez que o encarregado de informações se devia vestir elegantemente - é ele quem trata sempre e em primeiro lugar com as pessoas que aqui se dirigem - a fim de causar uma boa impressão. O resto dos funcionários, como o senhor pode ver por mim, infelizmente veste mal e fora de moda; aliás, não faz muito sentido gastar dinheiro em roupas pois passamos quase todo o tempo nas repartições e até cá dormimos. Mas, como disse, consideramos que era necessário que o encarregado de informações vestisse boa roupa. Porém, como a nossa administração, que neste aspecto é um pouco estranha, não lha forneceu, fizemos uma subscrição, na qual participaram também algumas pessoas que aqui vêm, e comprámos-lhe este belo fato e mais um outro. Agora estaria tudo preparado para causar boa impressão, mas ele com as suas risadas estraga de novo tudo e assusta as pessoas". (...)
Franz Kafka, "O Processo", pág. 76

Ai! que o pássaro voa...

Comentava-se algures em Cabo Verde, na manhã do dia de ontem, que Luís Filipe Vieira (o conhecido 'chefe' dos SLBs) tem mais 'quorum' por aquelas bandas do que qualquer governante português de topo!

Hipóteses:

  1. Crise das instituições democráticas?
  2. Os novos problemas que se colocam à democracia em plano ascendente?
  3. Apenas uma situação de normalidade prevista pela ciência política?
  4. O Benfica campeão?
Se nenhuma delas corresponde à resposta que lhe parece correcta, deixe o seu comentário no local próprio.
A ANIFC - Associação Nacional dos Investigadores em Fenómenos de Comunicação agradece.



sexta-feira, junho 24, 2005

Bloguítica

Começei a ler o Paulo Gorjão nos meus primeiros tempos na blogosfera. Confesso que ao início não gostei muito. Muita política internacional, mensagens subliminares para a esquerda partidária e muitas críticas ao jornalismo praticado em Portugal levaram-me a não gostar à primeira do blogue.

Hoje é precisamente a crítica fundamentada ao jornalismo, aliada a uma honestidade intelectual e independência na avaliação do mundo político, que me faz respeitar o autor e que me leva a ler atentamente o Bloguítica.

Gorjão representa, na minha opinião, um dos papéis mais importantes da blogosfera: o escrutínio do jornalismo. Sendo duro, incisivo e justo, o autor contribui para que o jornalismo português seja mais exigente consigo próprio. Só por isso - embora existam outras boas razões de natureza diferente - vale a pena visitar o Bloguítica.

O melhor remédio para ler Sousa Tavares

"Nestes dias em que todos só falam dos seus interesses e só olham para o seu próprio umbigo, onde estão os sinais de esperança?"

Tenho que passar a tomar meio Xanax antes de ler ou ouvir Miguel Sousa Tavares. Hoje cheguei ao fim da sua página no "Público" e fiquei deprimido. Ele bem pede desculpa, mas o seu "pessimismo negativista" é uma "overdose" para qualquer pessoa.

Campos vs Vieira

Campos e Cunha anunciou quarta-feira passada, numa reacção à aprovação da Comissão Europeia do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) do Governo, que a Segurança Social seria a próxima área a conhecer a tesoura dos cortes orçamentais.
Ou muito me engano, ou o ministro Vieira da Silva vai começar a entrar em choque com o seu colega das Finanças. Poderá ser uma batalha determinante para a permanência do ex-braço direito de Ferro Rodrigues no Governo de José Sócrates. “Cortes orçamentais” é frase que não passa pela cabeça dos responsáveis do Ministério da Praça de Londres.
Segundo o PEC, as alterações ao regime geral da Segurança Social devem gerar poupanças na ordem dos 200 milhões de euros em 2006 e de 840 milhões em 2009. Faltam saber todas as medidas – além do aumento da reforma - que levarão a estes números.
Embora apreciado pelo primeiro-ministro, Vieira tem Um pensamento político-ideológico com uma origem, forma e conteúdo muito diferente do de José Sócrates e do seu grupo político. Veremos quanto tempo dura.

O combate que falta ao deficit

Escreve o MS, e com razão, que os sindicatos só se preocupam com os direitos e esquecem-se das obrigações, além de se estarem a borrifar para a avaliação do mérito na Função Pública.

Desde há muito tempo que a credibilidade dos sindicatos da Função Pública é nula ou perto disso, por muito que alguma comunicação social continue a dar espaço desmesurado a sindicalistas mais retrógadas e desactualizados do que certos salazaristas no dia 24 de Abril de 74.

E é nula, porque está comprovado que o Estado gasta demais com a Função Pública tendo em conta a sua produtividade e rentabilidade - ver exemplo dos professores.

O combate ao deficit orçamental tem que passar, principalmente, pela redução da despesa. Qualquer combate a sério à fuga e evasão fiscal terá um apoio social reforçado, se o Estado for o primeiro a dar o exemplo. E o Estado deve começar precisamente pela Função Pública.

As medidas agora contestadas pela generalidade dos funcionários públicos foram anunciadas pelo primeiro-ministro há pouco mais de um mês. São positivas, mas não chegam. Como o comissário europeu Almunia recordou ontem, é preciso ir mais longe para atingir a meta dos três por cento de deficit.

Combater o desperdício na Função Pública, significa lutar pelo desaparecimento de alguns dogmas herdados do Estado Novo e do 25 de Abril. O que outrora foi revolucionário, hoje não passa do mais puro conservadorismo, que, até eu, um conservador intrínseco, acho que vale a pena a combater.

É da mais elementar justiça que a Função Pública passe a ter o mesmo Código de Trabalho que o sector privado. Nada justifica - a não ser a mais pura injustiça - que um funcionário público não possa ser despedido pelas mesmas razões que regem o sector privado. É um facto que algumas categorias profissionais da Função Pública - como as forças de segurança, por exemplo - devem ter um regime laboral especial. Mas isso nada impede que as regras, na generalidade, sejam as mesmas.
A progressão automática de carreiras, outro factor diferenciador, é anacrónica num tempo em que a produtividade quantitativa e qualitativa são factores importantes do desenvolvimento económico de qualquer país. Ligada a esta questão está o valor mais justo para fundamentar qualquer sistema remuneratório: a meritocracia.
A estas três questões, essenciais para modernizar a nossa administração pública, os sindicatos respondem dogmaticamente: "Não!"
(cont.)

O combate que falta ao deficit - parte 2

A Segurança Social é outra área onde existe uma desigualdade gritante entre os trabalhadores da Função Pública e do sector privado.
Primeiro são os cálculos de pensões e de reformas mais benéficos, já para não falar dos cálculos de descontos mais favoráveis. Depois, é a existência de uma instituição financeira que pura e simplesmente devia desaparecer, chamada Caixa Geral de Aposentações. Esta não passa de mais um privilégio sem sentido que os funcionários públicos.
Esta desigualdade pode chegar ao ponto, teórico da Segurança Social normal falir - deixando alguns milhões de portugueses sem reformas - sem que nada aconteça aos funcionários públicos inscritos na Caixa Geral de Aposentações.
A uniformização do sistema e do cálculo dos descontos e das reformas é obrigatória. Os especialistas dizem que para lá se caminha, mas, digo eu, contribuinte e leigo, que o passo tem que ser mais rápido. Nem que seja para garantir a solvabilidade da Segurança Social.
Esta uniformização deve passar também pelo desaparecimento - e consequente integração no sistema geral - das Caixas de Previdência do Ministério da Justiça, dos Jornalistas - muito vou ser criticado por esta - e, salvo erro, do Exército.
Ninguém tem direito a sistemas especiais.

A existência destas regalias para os funcionários públicos foi sempre justificada pelas competências especiais destes trabalhadores em prol da comunidade, além do facto de durante muito tempo a remuneração média na Função Pública ter atingido valores muito inferiores aos do sector privado.
Hoje em dia, nenhum destes fundamentos se justifica. A Função Pública - com excepção dos agentes de segurança e dos militares - é constituída por trabalhadores que tanto podem trabalhar neste sector como no sector privado. A competição existe, ao contrário do passado.
A questão remuneratória inverteu-se. Em termos médios, e pelo mesmo trabalho, o sector público tem salários mais favoráveis, como diversas estatísticas demonstram.

Em nome de uma sociedade portuguesa mais justa, estes acertos são essenciais. É assim que o Estado ganha moral e autoridade para atacar em força a fraude e a evasão fiscal. É dando o exemplo.

Sinceramente, dúvido que o Governo de José Sócrates ponha em prática qualquer uma destas ideias. Seria pedir demais a um partido governamental que tem os funcionários públicos como um dos seus eleitorados predilectos.

Impressões de Verão.



Sai de Lisboa na Quarta, por volta das 19:15h. A2 vazia, muito sol e calor à brava. Viva o A/C! Ia mole. Passou uma bala prateada, um S 320 cdi e a coisa animou, despertei para a vontade de chegar. Espicaça-se a besta, é veloz mas dócil. Deixo-me ir. No fundo, tudo parece parado no tempo. Quase duas horas após a partida, estacionava à porta de casa, o sol ainda não tinha tombado. À noite o café, depois do jantar. Na gelataria de um primo na avenida principal, junto à praia. Juntaram-se os amigos, o grande reencontro. Veio o café e muita conversa feita de: E este? E o outro? Que é feito de fulano? Venham as cervejas!
Era bonita, muito bonita. O seu aroma tropical, de café e canela, exalado de forma inocente mas inevitável, era embalado pelo calor da noite. Uma novidade para os meus sentidos. Até ao momento desconhecia a sua interessante existência. No entanto proibida. É de um amigo. Estava ao meu lado e os vinte e seis graus que os termómetros marcavam pareciam-me nitidamente falsos, baixos demais para a temperatura que eu estava a sentir. Isto na rua. Em casa a tortura flamejante do calor implacável na pele e do outro, que a canela e o café soltaram nas entranhas, tardaram o sono. Suspenso agora num limbo que resvala da realidade recém vivida para a fantasia febril, como se rebola do alto de uma duna de areia fina e quente para a água fria do mar.

No dia seguinte a praia. O ar a trinta e quatro graus e a água parecia próxima dos trinta. Pouca gente, muito pouca gente. Sem raquetes, nem futeboladas (que acabam sempre com a bola na tola, de alguém), nem gritos, nem o histerismo de Agosto, cujas atitudes parecem transpirar um sentimento de:
A-minha-vida-é-uma-seca-e-estes-dias-são-os-unicos-do-ano-que-vou-ter-para-aproveitar-a-vida-e-estou-tão-histérico-que-não-sei-o-que-fazer-e-portanto-tenho-que-aproveitar-ao-máximo-o-facto-de-estar-aqui-logo-fico-em-stress-e-hiperactivo!
Nada disso. Gente calma, que procura o abraço do sol alternado com o baptismo do mar. Água limpa e quente. Raro, absolutamente sublime! Passeios de infância repetidos, pelo molhe, até ao farol. O mesmo companheiro da infancia ao lado, o primo. Conversas amenas, pondo as novidades mais intimas em dia, longe dos ouvidos da geral! O mergulho tardio, arriscando o desafio de sair com os calções secos da praia. Aposta ganha.

Sábado, festa. Da boa. Noite quente, mais uma vez, muita gente nas varandas e terraços do sítio. Cheiros bons, os olhos agradados, perdidos e indecisos. Muita conversa, reencontros, abraços fortes e sentidos, movidos a álcool. Galanteios pontuais, novos conhecimentos, morangoska ao pontapé e um ou outro gin-tónico para desenjoar. Uma verdadeira festa.

Fígado nas últimas, o corpo moído da farra e da praia, trabalho à espera para ser entregue. Estrada, de novo, vazia. Trinta e nove graus no Alentejo, ecos distantes das músicas doidas ainda na cabeça, a pele ainda a estalar do sol. A promessa de um regresso breve. Um sorriso nos lábios e o cheiro a canela e café, a imagem de uma pele luzidia do suor, a distância intransponível da moral e o desejo por ela acentuado acompanharam-me todo o regresso a Lisboa.

Para quem poder, um conselho, Algarve em Junho, este Junho, agora, JÁ!

Portugal!!!









Esta é a posição do país face á crise que nos cobre de alto a baixo.
Perspectiva-se a continuação desta postura face à onda de calor que se avizinha.

quarta-feira, junho 22, 2005

Nem parece uma ministra de um Governo socialista

Já tinha boa impressão da senhora. Mas agora, depois de ouvi-la na SIC Notícias, passei a gostar definitivamente da ministra da Educação.
Maria Lurdes Rodrigues passou a ser o meu governante preferido. Só por estas duas frases - a propósito da greve marcada pelos sindicatos da CGTP e da UGT para os dias de exames nacionais:

1- "Os sindicatos procuraram criar confusão, de forma a que os professores não soubessem quem mandava. Mas os sindicalistas demonstraram, talvez por estarem afastados há muito tempo das escolas, que não são sensíveis aos problemas dos alunos e dos professores" ;

2 - "A hora é de concentração e de trabalho. Os sacríficios exigidos aos professores não são diferentes dos pedidos a outras classes profissionais"

Temos mulher!

Tiro pela culatra - parte 2

Recuando devagar, devagarinho o João Pedro lá vai mudando, ou melhor, moderando a sua posição. Vamos por partes:

1 - JPH continua a ignorar, ou a fazer-se de parvo, quanto à organização estalinista que foi e é o Partido Comunista. Concentrando-me só no passado, constato que o João Pedro considera totalmente irrelevante que o PCP, liderado por Álvaro Cunhal, tenha executado, como já recordei, sumariamente um alto dirigente do partido por "traição". O que só me pode levar a concluir que o JPH é complacente com o estalinismo.
Eu dou relevância a todos os presos políticos - comunistas, anarquistas, entre outros - que morreram no Tarrafal ou noutras prisões salazaristas, assim como considero relevante historicamente a perseguição política de que todos os opositores ao regime foram alvo.

2 - JPH escreveu que "a Cunhal devo a liderança na luta contra a ditadura". JPH, como o Mascarenhas recorda e bem, ignora que o combate ao Estado Novo também se fez por "dentro". O papel histórico da ala liberal liderada por Francisco Sá Carneiro foi totalmente escamoteado. Ao contrário do que JPH afirma - "que na chamada direita democrática, não conheço ninguém que tenha tido um papel de relevo (liderante) tanto no combate ao Estado Novo como no combate a Cunhal, após o 25 de Abril" - a existência, durante a primavera marcelista, de um grupo organizado na Assembleia Nacional (AN) que pensava de forma diferente de ultras, como por exemplo, Casal Ribeiro, é um facto político da maior importância. JPH não deve saber, ou finge não saber, mas a ala liberal tentou apresentar, entre outros, um projecto-lei que visava a instauração de uma verdadeira liberdade de imprensa em Portugal. O próprio Sá Carneiro, depois da sair da AN, continuou a combater polticamente o regime no "Expresso" .
Meu caro, nem os comunistas lideraram nenhum combate nem foram os únicos a combater o regime. O lado "heróico" do combate político na clandestinidade pode fascinar-te, mas não era a única maneira de combater o regime.

3 - Do ponto de vista jurídico e científico, como se ensina em qualquer Faculdade de Direito, o Estado Novo não foi um regime totalitário, não foi um regime fascista. Foi um regime autoritário, uma ditadura que fez algumas coisas boas e muitas coisas más. O balanço dos mais de 40 anos de salazarismo, na minha opinião, é claramente negativo para Portugal
De qualquer das formas, não é "relativismo" afirmar que o regime salazarista foi diferente do regime nazi e do regime de Mussolini. É um facto jurídico, político e histórico. Basta comparar as leis do Estado alemão e italiano durante os reinados de Hitler e Mussolini para chegarmos a essa conclusão. E se quiseres também podes comparar o regime jurídico salazarista com o da União Soviética para aferir a diferença entre autoritarismo e fascismo.

4 - Dizes tu: "A questão não é «intolerância»; é mais falta de paciência. Todos temos a mesma legitimidade para dizermos o que nos apetece; mas nem todos temos a mesma autoridade. A questão é essa: autoridade". Só uma pergunta: tu combateste o salazarismo? Combateste o comunismo em 74/75? Tendo em conta os teus 35 anos é um bocado difícil. Qual é a tua autoridade especial para dizer que a direita não combateu?

(cont.)

Tiro pela culatra - conclusão

E só para terminar, uma outra questão. Desde a morte de Álvaro Cunhal e de Vasco Gonçalves uma certa esquerda festiva enfatizou as "conquistas sociais" da extrema-esquerda de Cunhal e do camarada Vasco. E o muito que o PCP contribuiu para isso. Alguns deles caíram na asneira de tomas certos "direitos sociais" implementados pelo Estado Novo como conquistas de Abril. Marcello Caetano deveria ter os louros da construção de algumas bases do Estado-Providência, mas a ignorância e a má-fé que hoje caracteriza os herdeiros do "Vasco" e do "Álvaro" leva-os a dizerem e a escreverem enormidades históricas.

Foi Marcello Caetano - um falhanço no plano político, mas que deixou obra no plano económico e social - quem extendeu a Caixa de Previdência ao mundo rural que pouco ou nada descontava para a Segurança Social, alargando aos trabalhadores rurais - muito mais que 25 por cento dos empregados a nível nacional, nessa altura, salvo erro - o abono de família; a assistência e subsídio de doença; o subsídio de casamento e um subsídio de natalidade por cada filho nascido; e o subsídio de aleitação. Todos estes benefícios sociais foram mais tarde alargados às empregradas domésticas.
Também os pescadores - na altura um número apreciável - ganharam maior protecção social, com as chamadas pensões de sobrevivência para as viúvas.
Os funcionários públicos, por seu lado, ganharam uma ADSE devidamente financiada. De 1968
até 1973, por exemplo, os beneficiários passaram de pouco mais de 10 mil para cerca 400 mil.

Poderia continuar, porque o inventário é extenso, mas não vale a pena. Isto só para dizer que muitas das conquistas sociais que alegadamente correspondem ao património do 25 de Abril, de facto não o são. É uma questão de verdade histórica.

Tal como é uma verdade histórica escrever que quem conseguiu para Portugal o estatuto de membro associado do Mercado Comum (em 1973) foi Marcello Caetano. O processo que levou à adesão de Portugal à CEE em 1986 começou nessa altura e não com Mário Soares, já depois do 25 de Abril.

E já não vale a pena falarmos do progresso económico que o país conheceu durante o período marcelista e que foi interrompido pelo choques petrolíferos e pelo período revolucionário nascido do golpe de Estado do 25 de Abril.

Mas a democracia nascida a 25 de Abril e renascida a 25 de Novembro perdoa o retrocesso económico provocado pela revolução? Na minha opinião, sim. Desde que não se esqueça o lado positivo do passado. Que também existe.

terça-feira, junho 21, 2005

E depois não digas que eu não te avisei...

O Francisco redefiniu o conceito de serviço público de televisão e quer que a RTP transmita em directo os dois últimos jogos da selecção angolana de futebol na fase de apuramento para o Mundial.
Ó Chico, tu queres ser acusado pelo Bloco de Esquerda de ser neo-colonialista? Olha que Angola é independente há mais de 30 anos. Tem cuidado. Se os tipos te apanham a jeito ainda te chamam "racista"...

segunda-feira, junho 20, 2005

Custos e proveitos

O DD toca desassombradamente num ponto sensível para os federalistas. Desde sempre que ouvi das bocas daqueles que defendem um aprofundamento até ao infinito da União Política que Portugal só tinha a ganhar fazendo parte da "Europa", o mesmo não se aplicando a esta gloriosa entidade face ao nosso pequeno rectângulo. Fico contente por ouvir, ou melhor, ler pela primeira vez um dos federalistas mais radicais que eu conheço a recordar o que a Alemanha e a França - entre outros, presumo - ganharam com a presença de Portugal na União Europeia.

O que é que ganharam? Ganharam um mercado de cerca de 10 milhões de criaturas ávidas de consumo, com um Estado gerido e habitado por algumas mentes provincianas que se julgam mais europeias, logo mais civilizadas, por abrirmos as portas a tudo o que não é nacional, esquecendo que a França e a Alemanha, além da Espanha, são os países mais proteccionistas da Europa; ofereceram milhares de milhões euros para melhorarmos as nossas infra-estruturas, de forma a que os seus produtos cheguem mais depressas ao respectivos destinatários nacionais; deram milhares de milhões para gastarmos em formação - ignorando o respectivo desperdício - de forma a que os nossos trabalhadores estejam preparados para trabalhar nas fábricas por si detidas em território português; enfim, pagaram muito para que o nosso mercado abrisse totalmente as portas, reestruturando totalmente a nossa balança comercial e colocando a Alemanha como nosso principal cliente e fornecedor .

Esta é a verdade nua e crua do "sonho europeu". A Alemanha e a França que são os maiores "contribuintes" do Orçamento, pagam bem para que os diferentes mercados europeus não coloquem obstáculos às suas empresas.

Mas sabes uma coisa, David? É assim a "real politik".

Além disso, a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia - apesar da destruição do sector agrícola e pesqueiro - é, na minha opinião, um caso de sucesso. Portugal ganhou definitivamente estabilidade política e económica que lhe permitiu mais que duplicar o seu nível de desenvolvimento socio-económico em pouco menos de 20 anos. Houve custos e houve proveitos. O balanço, para mim, é claramente positivo.

A Alemanha e a França não são para mim o eixo do mal. Simplesmente defendem, principalmente os franceses, um modelo de desenvolvimento, o tal social europeu, que eu considero pernicioso para a competitividade da economia da UE.

Confesso-te que ainda li a cláusula de saída inscrita no Tratado. Não sei se tu já leste, mas amanhã irei ler os anexos do Tratado. De qualquer das formas, eu não defendo a saída de Portugal da UE.

"Mas afinal o que raio defendes tu para a Europa", perguntas tu?

Amanhã respondo-te.

Contra-proposta

O David fez no post "Da Democracia na Europa" uma proposta interessante. Além de concordarmos os dois - verdadeiro marco histórico da nossa longa "conversa" sobre a Europa - num obrigatório referendo a nível europeu - no mesmo dia. acrescento eu - para ratificar o novo Tratado, seja ele Constitucional ou não, o DD acrescenta que os países onde o "não" ganhe devem escolher se ficam ou se saiem da União Europeia (UE). Eis um dilema interessante, mas já lá iremos.

A decisão do Conselho Europeu de suspender o processo de ratificação do Tratado Constitucional, veio demonstrar que a classe política europeia ainda não percebeu porque ganhou o "não" na França e na Holanda.
A dupla vitória, na minha opinião, deveu-se simplesmente ao facto de os franceses e os holandeses não concordarem com o caminho federalista que tem vindo a ser construído sem legitimidade política directa.
Por isso mesmo, era e é fundamental continuar com o processo de ratificação, por muito que, em termos jurídicos, o Tratado já tivesse sido chumbado. Bastava uma vitória do "não". Mas certo é que a classe política europeia não suspendeu o processo depois do referendo em França, mas sim depois de uma segunda vitória consecutiva do "não na Holanda. E porquê? Porque procurava contornar a verdade jurídica do Tratado já ter sido chumbado. Procurava encontrar razões políticas para contornar a verdade jurídica.

Porque era, e continua a ser, importante saber se existem mais povos que têm a mesma opinião dos franceses e dos holandeses, entendi que o processo de ratificação deveria continuar. Não faz sentido parar um processo a meio sem sem saber as razões e o que pensam todos os envolvidos. Menos sentido faz "parar para reflectir", se - como eu, sinceramente, desconfio - esse nevoeiro só servir para a classe política ganhar tempo e espaço para impôr mais um referendo aos franceses e aos holandeses, repetindo o triste e degradante espectáculo de chantagem - sem aspas - que a "Europa" exerceu sobre os dinamarqueses em 1992 e sobre os irlandeses em 2000. Se assim for, estamos definitivamente conversados quanto ao espírito democrático da "Europa".

Precisamente porque não devemos confiar na inexistente cultura democrática de Bruxelas, a necessidade de um referendo no mesmo dia em todos os Estados-Membros é gritante. Pôr tudo em pratos limpos deve ser a obrigação dos políticos europeus.

Mas, pergunta-se: com que Tratado? Este foi chumbado. Faz-se outro? Modifica-se este?

Nem uma coisa nem outra. Sou da opinião que a classe política europeia deve promover, sem medos e fantasmas, um referendo sobre qual o caminho que deve ser seguido: Federação ou Confederação? União Política ou apenas União Económica? Estados Unidos da Europa ou União Europeia?

Só depois dos diferentes povos europeus decidirem o destino que preferem, logo se pensaria em "Constituições" e "Governo da Europa", "Exército Único", etc.

Esta seria, na minha opinião, a melhor forma - a única, aliás - de legitimar o chamado "processo de construção europeu".

Propõe o DD que os Estados-membros onde ganhasse o "não", decidiriam se ficavam ou se saiam. Bem, as coisas não são assim tão simples. Não acredito que a Alemanha ou a França deixem, por exemplo, Portugal, Espanha, Irlanda ou a Grécia sairem sem reclamarem a reposição de parte dos Fundos Comunitários recebidos por esses Estados.

Porque o dinheiro, meu caro, é a essência do verdadeiro e único espírito europeu existente.

Informação "serôdia"

O meu caro amigo DD anda com o sentido de humor em baixo de forma. Além de não responder às perguntas que coloquei, ainda comete erros de facto.
O "nacionalista serôdio" informa que o Milhafre é, de facto, uma ave de rapina. O que não quer dizer que os federalistas estejam politicamente mortos. Pelo contrário.
Uma batalha terminou. Mas outras se aproximam.

Com a protecção do nevoeiro de "uma pausa para reflexão", a classe política europeia, com a ajuda de vanguardistas (estás a ver David?não é preciso utilizarmos as armas do Carrilho e do Jardim para debatermos com urbanidade) como o DD está, mais uma vez, a tentar encontrar uma estratégia eficaz para impôr o federalismo político aos povos europeus como o único e exclusivo caminho para o desenvolvimento económico do continente.

Mais daqui a pouco desenvolverei as minhas opiniões sobre a "pausa para reflexão"

Ridículo

"A quota de 55 por cento da imprensa escrita diária generalista decorre da posse de três dos cinco títulos do segmento - «Jornal de Notícas», «Diário de Notícias», e «24 Horas» (os outros são o «Correio da Manhã» e o «Público») - e «indicia a existência de uma posição dominante", diz a entidade reguladora".
Este é um excerto de uma notícia do Público sobre o projecto de decisão de passagem do processo de venda Lusumondo Media à Controlinveste de Joaquim Oliveira a investigação aprofundada da Autoridade de Concorrência (AC).
Segundo o documento, a AC poderá obrigar Oliveira a vender o jornal mais rentável e lucrativo da PT, o JN. A concretizar-se tal decisão, o negócio seria anulado, porque o acordo de venda diz explicitamente que o negócio ficará sem efeito se o comprador "for impedido de adquirir/manter o JN".

Só uma pergunta: se a AC considera que o controle por uma só empresa do JN, do DN e do 24 Horas constitui posição dominante, o que raio andou a fazer desde Novembro de 2000 quando a PT, sob a tutela do Governo de Guterres, comprou a totalidade do capital social da Lusomundo ao coronel Luís Silva, "renacionalizando" o DN e o JN? Será que o facto da Lusomundo ter passado a ser da PT impedia a classificação de "posição dominante"? Ridículo.

Não sou jurista, mas parece-me que Joaquim Oliveira vencerá facilmente em tribunal, caso a AC de Abel Mateus vá por este caminho.

É com atitudes destas que entidades que regulam a concorrência, que devem ter uma autoridade inexpugnável, perdem credibilidade. E respeito.

Tino

Ao fazer zapping, apanhei o Tino de Rans a correr e a saltar como um gafanhoto ruivo e mal vestido depois de ter sido expulso da Quinta das Celebridades e lembrei-me da proposta de fusão de freguesias de António Costa - justa e correcta, diga-se de passagem. Será que Costa irá propôr a fusão da freguesia de Tino com as vizinhas de Duas Igrejas, Galegos, Guilhufe, Irivo, Marecos ou Oldrões? Aí é que o ex-autarca e ex-cantor pimba regressava aos congressos do PS. E com a ajuda de Narciso Miranda.

Uma musiquinha para animar

Recomendo aos meus federalistas preferidos, DD e MS, a audição atenta do dueto entre Louis Armstrong e Ella Fitzgerald chamado "It´s Better To Call The All Thing Off". É uma música divertida, cheia de ritmo e capaz de inspirar os meus caros amigos a encontrarem novos argumentos para explicar o "medo" do "não".
Já agora, podem ajudar-me a tentar compreender o seguinte: se a classe política europeia tem medo do contágio do "não" francês e holandês, porque raio insistem em fazer referendos descoordenados em vez de realizarem um só, no mesmo dia e em todos os países? Pior: porque é que permitem o voto no "não"? Não seria melhor realizar um referendo com um único quadradinho ao lado da palavra "sim"? Era mais fácil, mais barato, dava menos chatices e ainda proporcionava uns milhares de milhões a Portugal...

domingo, junho 19, 2005

O candidato fraquíssimo

Lembram-se quando o "Expresso", há pouco mais de um mês, acusou o PS de ter o propósito de apresentar uma candidatura de segunda linha para beneficiar o "independente" Isaltino Morais? Recordam-se, certamente, do coordenador autárquico Jorge Coelho ter negado veementemente a notícia, garantindo que o PS apresentaria uma "candidatura fortíssima"?
Pois bem, Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e protagonista da tal "candidatura fortíssima", disse "não" a Coelho. Deverá avançar, segundo o "Expresso" e o "Público", Emanuel Martins, presidente da concelhia socialista do PS.
Sabem quem é? Pelo menos 99,9 por cento dos visitantes deste blogue responderão que "não". O que é natural. Mas pior que Coelho não apresentar um candidato "fortíssimo", é o facto de avançar com um nome de um socialista que já foi vereador de Isaltino Morais, com direito a pelouros, e que pouca ou nenhuma oposição fez ao ex-autarca social-democrata.
Pelos vistos, o PS em Oeiras continuará a seguir a táctica que inaugurou a partir dos anos 90.

sábado, junho 18, 2005

A democracia mete medo?

"No final, o medo de se verem confrontados com uma sucessão de rejeições nos países que ainda têm referendos pela frente, acabou por ditar a solução mais realista: parar o processo até melhores dias. Foi quando Jean-Claude Juncker confrontou, mais uma vez, os seus pares com a eminência de a rejeição do tratado no seu país num referendo marcado para o dia 10, que todos caíram em sim. «O 'não' do Luxemburgo era fatal, porque era um tiro no próprio coração da Europa", reconheceu José Sócrates".
Artigo da jornalista Teresa de Sousa na pág.16 do "Público" de hoje

Aculturado por Jardim

Com a entrevista concedida ao Expresso de hoje, Manuel Maria Carrilho voltou a provar porque razão é o egomaníaco mais perigoso da política portuguesa. Intelectualmente respeitado, Carrilho deita tudo a perder quando deixa que a sua avassaladora e despudorada ambição, aliada a uma auto-estima muito mais volumosa que a sua cabeleira, interfira com o seu raciocínio político. O homem até pode ter boas ideias - mais concretamente, e contando com os títulos, "38.760 caracteres" - mas com atitudes semelhantes às de Alberto João Jardim, não me parece que a esquerda lisboeta vá a correr a votar nele. Por muita gira que seja a Bárbara. E o Diniz, claro.
"By the way", onde estão os críticos - justissímos, diga-se de passagem - que arrasaram os "filhos da puta" de Jardim? Vá lá, chamar "débeis mentais" aos jornalistas sempre é um bocadinho mais criativo e rebuscado. Ao fim e ao cabo, estamos a falar do "melhor ministro da Cultura de sempre". Qualquer dia ainda recebe uma comenda do Governo Regional da Madeira.

Terror na terra do Drácula!

Com um título em que aludia ao ‘terror’, acabei de ler uma lúcida análise de Nuno Pacheco, no seu editorial do ‘Público’, que me deixou, no mínimo, sombrio, factor que se vai tornando uma constante no meu quotidiano.
A força da fé não tem medida de poderosa que é – para o bem e para o mal.
A sua apropriação para outros fins também não tem medida pela capacidade de transformação que pode protagonizar.
A Inquisição nos seus Autos de Fé não desdenhou da sua apropriação porque de fé, na realidade, não se tratou. Crime é apenas a palavra que encerra o efeito dessa apropriação.

Pensei que se tivessem guardado atentamente as memórias de tão nefastos actos. Pensei. Contudo, e no quadro de uma panóplia de modernas atrocidades ocorrentes numa diversidade territorial e cultural vasta, os velhos hábitos ainda não foram extirpados da conduta do homem europeu.
Foi aqui, ao lado, na Roménia, que o caso se deu ao conhecimento.
Torturar e crucificar uma jovem de 23 anos, freira, num convento ortodoxo, sendo os autores da ocorrência um padre e quatro freiras com a justificação de que a 'serva de Deus' não ter confessado estar possuída pelo Demónio ou isto ou aquilo, em 2005, é inqualificável mas não deixa de ser próprio do ser humano.

A espécie humana continua a deter o título da espécie com maior número de monstros da história decifrada do planeta Terra.
Haverá a possibilidade de existir 'mais do mesmo' noutro local do cosmos? Ainda não sabemos, mas com um pouco de sorte pode ser que não!
Para não ficarmos por aqui é de assinalar que, e com infinita tristeza o escrevo, as autoridades superiores ortodoxas orientadoras do mosteiro em causa deixaram escapar esta reacção - que também já correu mundo -:
“Não sabemos o que a jovem terá feito!”

A única explicação, e como estamos na Roménia, poderia ser a atribuição do hediondo acto a Drácula!
Mas mesmo esse é um clássico da literatura e do cinema e muito foge aterrorizado sempre que se confronta com a Cruz dos Homens.

quinta-feira, junho 16, 2005

Mau jornalismo

Hoje arrependi-me dos 85 cêntimos que gastei na edição do "Público". Nunca comprei o "Avante" na minha vida, mas hoje, involuntariamente, parece-me que o trouxe para casa.
Como sempre, comprei o "Público" sem olhar para a capa. Só quando estava a beber o primeiro café do dia é que reparei na bela fotografia do cortejo fúnebre de Álvaro Cunhal. O problema começou quando li o título da primeira "A última vitória de Cunhal" e depois o antetítulo "Impressionante manifestação no adeus ao dirigente comunista".
"Vítoria"?!! "Impressionante"? Álvaro Cunhal nunca venceu sozinho nenhuma batalha política de relevo nacional. O 25 de Abril não foi nenhuma vitória do PCP, mas sim uma batalha ganha pelos militares do Quadro Permanente das Forças Armadas que levaram a cabo o golpe de Estado que derrubou o Estado Novo. Tal como em democracia, nunca o PCP ganhou qualquer eleição. A não ser que se considere a vitória presidencial de Soares em 1986 como uma vitória de Cunhal...
Quanto ao "Impressionante", é muito feio para um jornal que acredita no "jornalismo objectivo" utilizar adjectivos na descrição de qualquer acontecimento, por muito relevante que seja.

Mas o mais inacreditável surge na página 2, onde aparece um autêntico texto de propaganda política. O título "Líder político até na morte", o lead "Ao som de A Internacional cantada em coro de larguissímos milhares de vozes, Álvaro Cunhal foi homenageado por uma manifestação de força e de convicção política. Tal como tinha pedido", e, principalmente a seguinte entrada do texto não honram a independência e a objectividade a que o Público habituou os seus leitores: "Para que não houvesse dúvidas sobre quem é Álvaro Cunhal, milhares e milhares de pessoas acorreram às ruas de Lisboa, dizendo presente numa monumental manifestação política que foi o cortejo fúnebre e a cerimónia de cremação do antigo secretário-geral. Morrendo como sempre viveu, o líder histórico e refundador do PCP fez questão de que a sua última prestação pública, o seu funeral, se transformasse em mais uma das suas inúmeras prestações públicas ao longo da vida, uma acontecimento político, uma demonstração de força e de convicção política".
O texto de São José Almeida é totalmente opinativo e subjectivo, devendo ter a classificação de "artigo de opinião" e não a categoria de "notícia".

Vou comprar pela primeira vez na minha vida o "Avante" para ver se consigo ler a notícia sobre a morte de Cunhal que desejava ler no "Público". Só tenho que descobrir o dia em que sai e onde se vende. Alguém me ajuda?

Um tiro pela culatra

Com 48 horas de atraso, escrevo sobre um ligeiro devaneio do João Pedro. Sendo um resmungão, às vezes exagera na dose e começa a disparatar. Foi o caso do post "Tentam fazer-nos por parvos".

Reagindo a uma série de opiniões contrárias ao elogio hipócrita que muitos fizeram ao papel histórico de Álvaro Cunhal, JPH escreve que a "Cunhal devo a liderança na luta contra a ditadura; a Soares devo a liderança na luta contra Cunhal (e a Europa e a consolidação da ideia democrática". JPH tem todo o direito de escolher como referências quem quiser. Sendo um homem de esquerda é perfeitamente natural que escolha um comunista e um socialista.
O que já é censurável, ainda por cima para um auto-denominado democrata, é dizer que aos "descendentes de Spínola e de Freitas do Amaral e de Adriano Moreira e de Manuel Monteiro e de Paulo Portas e de Avelino Ferreira Torres, etc, ninguém deve historicamente nada de relevante neste país. Nem antes do 25 de Abril nem depois. Antes alimentavam-se do orçamento de Salazar; depois esconderam-se atrás de Soares. Agora blogam".

JPH revela uma sobranceria e uma arrogância própria dos esquerdistas que consideram que a democracia se deve única e exclusivamente ao labor dos seus, como se todos os não socialistas e não comunistas fosse automaticamente salzaristas e fascistas. Para um homem de apenas 35 anos revela muitos dos tiques dos gonçalvistas e otelistas que um dia quiseram abrir o Campo Pequeno para fuzilar os contra-revolucionários encostados a uma parede.

Pior que isso: para um homem informado revela uma ignorância histórica perigosa.

Álvaro Cunhal não liderou nenhum luta contra a ditadura. Que eu saiba, nunca a oposição ao regime salazarista reconheceu o PCP como líder seja do que for. Por exemplo, alguns dos episódios mais marcantes da oposição ao regime salazarista, como as candidaturas presidenciais de Norton de Matos ou de Humberto Delgado, além das "eleições" promovidas por Marcello Caetano, nunca tiveram uma participação preponderante dos comunistas. Nelas participaram, mas não lideraram.
A oposição a Salazar teve a participação de socialistas, de republicanos, de monárquicos, de católicos, de liberais a até de conservadores. Fez-se na clandestinidade, mas também na rua, nos tribunais, nas escolas, nos quartéis, nos hospitais, etc. Dizer que o PCP era a organização oposicionista mais bem organizada, é uma coisa. Afirmar que Álvaro Cunhal foi líder da oposição do Estado Novo é um exagero e uma demagogia simplória.

Por outro lado, e este para um democrata deveria ser um ponto importante, o "modus operandi" do PCP de Álvaro Cunhal sempre foi, e ainda hoje é, essencialmente estalinista. Basta recordar os "processos de Moscovo" levados a cabo pelo partido liderado por Cunhal nos anos 50 em Portugal que resultou, num deles, na execução sumária de um destacado dirigente do PCP por alegada traição ao partido. Manuel Domingues, tido pelos seus camaradas com o "espião" da PIDE que terá levado à prisão de Cunhal e de outros dirgentes do Comité Central, foi executado pelos seus camaradas num pinhal de Belas com 4 tiros disparados a uma curtissíma distância. Resta só dizer que as acusações do PCP vieram a revelar-se erradas e infundadas.
Alguma vez o "Partido" admitiu este erro? Não.

Não sei se Álvaro Cunhal tomou conhecimento antecipado dessa execução, mas, enquanto líder de um partido que organizou tais processos sumários, Cunhal é responsável políticamente pela mesma. Não é a este homem que eu devo a democracia.

quarta-feira, junho 15, 2005

Festival de Carcavelos

Passados uns dias sobre o Festival de Carcavelos da semana passada, ainda não percebi se sempre foram atribuídas as culpas do sucedido aos banhistas que lá se encontravam naquele santo dia .

Assim ficaram a perceber que, no próximo ano - qual dever cívico –, deverão ficar em casa, quietinhos no sofá, a ver pela TV a entrega das medalhas do 10 de Junho. vale sempre a pena saber o nome das novas celebridades nacionais.

Se tivessem juntado um dinheirinho do muito que há por aí espalhado, teriam evitado aquela praia de mau agoiro e já estavam com os costados no Brasil, praias calmas, mais bem frequentadas, com celebridades populares à mão, etc., a apanhar um Solzinho gostoso e a ouvir o samba da moda.

Réplica atrasada

O camarada Papa Amoras está a pedir réplica. Ainda por cima, numa altura em que federalistas radicais já vêem vantagens no voto no "não".
E vai té-la. Não falhará. Está só atrasada.

terça-feira, junho 14, 2005

As minhas recordações de Cunhal - parte I

Nasci no ano do 25 de Abril e desde sempre que me interesso por política. Influenciando pelo meu pai, comecei a ouvir as discussões sobre política com atenção, mas sem consciência ou capacidade para distinguir a verdade da mentira. Sá Carneiro, Mário Soares, Freitas do Amaral e Álvaro Cunhal foram os quatro políticos que "conheci". Oliveira Salazar só veio mais tarde.
Recordo-me de uma revista satírica do Vilhena que retratava os quatro principais líderes do período pós-revolucionário. As imagens mais marcantes dos cartoon's eram as bochechas de Soares e as sobrancelhas negras carregadissímas de Cunhal.
O "comuna" Cunhal e os seus camaradas comunistas que "comiam criancinhas ao pequeno almoço" fazem parte do meu imaginário infantil. Os insultos de míudo traquina que dirigia ao líder do PCP sempre que o via nos tempos de antena dos períodos eleitorais devem ser a minha primeira mensagem política. Inconsciente, fútil e desprovida de sentido, é certo, mas isso não impedia que os meus "adversários" políticos fossem os "comunas" e a sua ditadura vermelha. Onde nasci não haviam muitos militantes do PCP, logo os miúdos da terra tinham muitos poucos da sua altura com quem embirrar. Restavam-nos os tempos de antena da televisão.
Curiosamente, o PCP não é a organização que a minha memória identifica cronologicamente com os comunistas, mas sim a famosa APU. Para quem não saiba, estou a falar da Aliança Povo Unido, a frente eleitoral que congregava o PCP e o MDP/CDE, salvo erro, e era uma resposta à AD e à Frente Republicana Socialista de Soares e de Sousa Franco. Todos os míudos anti-comunistas caíam sempre no facilitismo de fazer rimar APU com uma determinada parte do corpo humano... o que dizia muito da nossa consciência política.
Isto tudo tem a ver com Álvaro Cunhal. Bem vistas as coisas, Cunhal fez mais pelo meu precoce interesse pela política do que qualquer outro líder partidário português. O meu anti-comunismo precoce e primário nasceu com o primeiro líder comunista que "conheci". O seu ar frio, duro e seco, conjugado com a educação conservadora e anti-comunista que tive, gerou a minha "repulsa" política pelo secretário-geral do comunistas. Tinha 6 anos.

Álvaro Cunhal morreu aos 91 anos. Hoje, aos 31 anos, depois de ter estudado, e continuar a estudar, o século XX português, cumprimento respeitosamente a figura histórica de Cunhal. Continuo anti-comunista, discordo totalmente do ideal que guiou a vida do líder histórico do PCP, mas presto o meu respeito a um português culto, inteligente e lutador corajoso por aquilo que entendia ser o melhor para Portugal.

As minhas recordações de Cunhal - parte II

O meu respeito pela figura histórica de Álvaro Cunhal não é incompatível com a crítica contundente ao seu papel na história do Portugal democrático.
Cunhal lutou convictamente, e pagou conscientemente um preço alto, contra a ditadura autoritária de Oliveira Salazar. E lutou para impôr outra ditadura no lugar daquela. Uma ditatura comunista inspirada no modelo soviético, onde não haveria lugar para a liberdade de expressão e de associação, onde a propriedade privada seria proibida, onde qualquer culto religioso não seria permitido, enfim, onde a cultura do povo português seria total e absolutamente desrespeitada.
Portugal recusou essa ditadura e Álvaro Cunhal perdeu. Mas o 25 de Novembro não evitou que o Partido Comunista Português liderado e orientado por Cunhal colocasse uma marioneta circense chamada Vasco Gonçalves a primeiro-ministro dos II, III, IV e V Governos Provisórios. O gonçalvismo, que não passa de um eufemismo para comunismo, destruiu a economia nacional, nacionalizando as principais empresas e promovendo a ocupação e a destruição da propriedade privada, seguiu a política de descolonização do PCP e entregou os territórios sob administração portuguesa aos movimentos de libertação controlados por Moscovo. Portugal retrocedeu economicamente e socialmente no ano e meio de total desvario de Vasco Gonçalves.
A principal prova disso mesmo é o facto, comprovado estatisticamente, de o nível de desenvolvimento económico nos tempos de Marcello Caetano só ter sido recuperado passados mais de 20 anos.
Além desta influência funesta para os interesses de Portugal, Álvaro Cunhal teve também um papel, ainda hoje pouco esclarecido, na passagem de segredos do Estado português para a União Soviética. Ainda está por esclarecer o papel do PCP no transporte de parte das fichas da PIDE para Moscovo.
Enquanto viveu, e essa é a última crítica que lhe faço, Álvaro Cunhal nunca reconheceu os erros do estalinismo. Cunhal nunca reconheceu publicamente os vários milhões de mortos do regime comunista soviético comandado por Josej Estaline. Essa teimosia fez com que hoje existam autênticos funcionários públicos da política, como o líder parlamentar Bernardino, a elogiar a qualidade da "democracia" da Coreia do Norte.

Álvaro Cunhal é um dos perdedores da história. Felizmente.

Frente a frente


Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

Eugénio de Andrade

sábado, junho 11, 2005

A UE e o Milhafre

Só por falta de oportunidade, no caso, física, por abstinência do teclado e do servidor, sem falar de outros aspectos referenciados no talento das urbes, não me foi possível abordar o manifesto apresentado pelo concludente Milhafre, uns dias atrás, em pleno estremeção do edifício europeu.

Ora, estimado Milhafre, “ao estabelecer em letra de lei que o direito da União Europeia (UE) se sobrepõe ao direito dos Estados-Membros, o Tratado Constitucional pode estabelecer formalmente o federalismo”
. Mas, e daí?

Poderia pensar convidar o meu caro colega, de espaço aéreo, a trazer à conversa a questão europeia, num qualquer horário do nosso comum voo, mas o facto é que o meu amigo, encontrando-se no seu pleno direito, define-se como ‘soberanista’.

Agora, imagine a dificuldade que se me coloca ao pretender debater o assunto perante um pássaro português (e europeu!), que confessa, pelo menos, 6 razões para votar “não”, nesta fase de efectivo desenvolvimento europeu, ao projecto de Constituição!
É claro que não estão em causa hipotéticas razões e sim um princípio de fundo, princípio, este, absolutamente redutor, na actual grande controvérsia: - o meu amigo Milhafre assume que na Europa se devem defender apenas tratados de conteúdo económico e social; nunca políticos!

Quando o meu amigo defende que “Portugal não pode permitir que leis de outros Estados ou entidades a que pertença se sobreponham de forma total ou parcial ao enquadramento jurídico definido pelos cidadãos portugueses”, está apenas a afirmar a sua indisponibilidade para poder vir a aceitar que Portugal possa vir a integrar qualquer união, politica e económica, porque, e devemos ser precisos na análise do discurso, qualquer tipo de união pressupõe cedências de todas as partes envolvidas.
Assim, e deixe-me dizer-lhe, o meu caro Milhafre não está disposto a discutir os artigos do que se pretende venha a ser a Constituição da UE; o meu amigo simplesmente não quer discutir o assunto UE, porque, e no momento presente, não concorda que essa união passe a figurar como um facto próprio e real do desenvolvimento do Homem europeu e universal.

A sua posição, presumo-a difícil, em função do caminho percorrido até aqui por todos nós, os habitantes deste espaço, que se quer mais mental que geográfico, chamado Europa. E mesmo que a minha passasse a ser uma difícil posição, pela enormidade de obstáculos, naturais e não só, que se poderão erguer contra esta ideia urgente, a minha convicção continuaria a ser igual: crente num ser europeu e universal, conhecedor da injustiça provocada pela procura das hegemonias, que terminam em guerras e futuros negócios sob a tutela do sangue, fundamental na arbitragem de um mundo cheio de problemas tremendos e de equilíbrios avessos, mas ainda primos da história universal.
Ainda mais: mesmo que saiba da impossibilidade da existência do ser que acima descrevo, não poderei deixar de pensar que o caminho não deve ser diferente deste, para poder dormir um pouco melhor, por dentro da noite, sempre que ela chegar.

Amigo Milhafre: não se esqueça que este passarinho não tem sonhos, para lá do possível, no que diz respeito ao vírus comummente designado por Homem!

Pena não podermos discutir os artigos do projecto, por duas razões: uma delas tem a ver com o facto de o meu amigo se recusar a isso, pela sua irredutível posição, como soberanista; a outra tem a ver com o facto de também eu pensar não ser este o projecto a discutir, vide a confusão provocada pelos egoísmos - franceses e holandeses -.
Sinto-me confortável por pensar que os meus ainda vizinhos espanhóis não foram na conversa.

quarta-feira, junho 08, 2005

O exemplo...



Originally uploaded by Papa Amoras.

Também aqui!

Também aqui, em Portugal, continua a existir muita gente que, mesmo perante a demonstração de que o mundo mudou e muda, todos os dias, prefere usar uma antiga espada, monumento pertencente à história do verme humano, vulgo 'homem', aos instrumentos que lhe são pertença actual, através dos emolumentos dessa mesma sua história.

Nem mesmo misturando um forte ruído, ligeiramente acima dos seus pensamentos!

terça-feira, junho 07, 2005

Novos cooperantes

O nosso Roger continua a arregimentar fans por esta blogesfera fora. Qualquer dia, em vez de um clube de groupies abrem uma cooperativa em nome do pirlito d'areia.

Um pequeno exercício de memória

Hoje fiquei a saber que o porta-voz da Associação Nacional de Farmácias (ANF) dá pelo nome de Luís Paixão Martins. Conhecido spin-doctor cá do burgo, foi também o responsável pela campanha do PS de José Sócrates nas últimas eleições legislativas.
"E...?", perguntam vocês. Nada de especial, digo eu. Apenas que as farmácias foram a primeira "vítima" do febril e contagiante estilo anti-lobbies do nosso primeiro-ministro, com a liberalização do preço dos medicamentos que não necessitem de receita médica e o fim da sua comercialização exclusiva por parte das farmácias.
E sabem o que aconteceu depois do discurso de Sócrates na tomada de posse como líder do XVI Governo Constitucional? A 26 de Maio, o Parlamento autorizou o Governo a legislar sobre a matéria, aguardando-se agora a aprovação e publicação da lei. Mas a ANF não ficou parada e, segundo o Público, já conseguiu comprar 49 por cento da filial portuguesa da maior empresa grossista da Europa, a Alliance UniChem. Com mais dois por cento do Grupo Mello, a ANF, que detém mais a quase totalidade das 2800 farmácias portuguesas, passa a controlar o mercado de distribuição de medicamentos. Desta forma, as farmácias vão poder lutar com os hipermercados, garantindo, antecipadamente, as suas margens de lucro de 20 por cento.
"E o que é que o Paxão Martins tem a ver com o caso?". Aparentemente, nada. Salvo erro, a sua empresa já detinha a conta da ANF antes das eleições legislativas.
Ao ler a notícia do Público, recordei-me só do "grande" escândalo provocado por alguma comunicação social sobre a tenebrosa influência da agência de João Libano Monteiro junto do poder executivo. Lembram-se?

Somos todos xenófobos e racistas

Hoje também fiquei a saber que a Teresa Sousa, proeminente jornalista e federalista, considera que o "não" francês e holandês baseia-se, simplesmente, em razões xenófobas e racistas. Ora aqui está um ponto de vista curioso, digo eu. O que só pode levar a jornalista a concluir que os filhos de Hitler estão ao virar da esquina do poder...
Segundo a jornalista, a França quer "uma Europa de novo reduzida à sua pequena dimensão ocidental, com «pobres» quanto baste, mas não em demasia. Economica e socialmente «harmonizada» de acordo com o que a França entende por modelo social europeu e que Jaqcues Chirac designa agora por «modelo francês», preservando a PAC até para lá do absurdo". Estas são, portanto, as razões que levavram os franceses a votar "não".
E as dos holandeses? "Não são mais animadoras, por mais legítimas que sejam. São também contra o alargamento, contra a «invasão» dos pobres ou contra a invasão islâmica". Nem mais.
"Nos dois casos, apenas uma minoria expressa a visão soberanista dos nossos eurocépticos", conclui Teresa de Sousa.
Pior que este autismo primário, só o facto de a jornalista acusar os eurocépticos de não terem um projecto para a Europa, como se a Europa Federal fosse o único e exclusivo caminho aceitável.
Confesso: este absolutismo iluminado, que ignora o facto de os diferentes povos europeus discordarem dos seus projectos radicais, é o que mais me irrita nos federalistas.
Volto a recordar que o povo dinamarquês (por duas vezes), irlandês, sueco, francês e holandês votaram "não" desde que a Europa Federal começou a ser construída com o Tratado de Maastricht.
Será que são todos xenófobos e racistas?
Uma Europa assente no mercado único não necessita de uma União Política. O "não" ao Tratado Constitucional significa isso mesmo. O projecto alternativo passa por continuar com a União Económica e Monetária, mas sem aprofundar qualquer União Política que leve à criação de um super-Estado Federal chamado "Europa". Será que custa assim tanto perceber isto?

"Money is all that matters"

"Tenho posições pessoais que divergem, num ou noutro ponto, da posição oficial oficial da República Portuguesa. Esta até agora é clara, e não mudou, e é a de que teremos um referendo em Outubro". Diogo Freitas do Amaral, ministro dos Negócios Estrangeiros do XVI Governo Constitucional, em declarações proferidas em inglês no Palácio das Necessidades, tendo a seu lado o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão.
Como é possível um ministro responsável pela política externa proferir "opiniões pessoais" diferentes da posição oficial do Governo? Não pode. Resta dizer, que a "posição pessoal", proferida na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa é a seguinte: "Este tratado não funciona, vamos fazer outro". O que implica terminar com o processo de ratificação em curso.
O mais engraçado é que Freitas do Amaral, como o Canil assinala e muito bem, limitou-se a jogar em dois tabuleiros: se o Conselho da Europa terminar com o processo de ratificação, o Governo ganha; se o Conselho da Europa continuar com o processo de ratificação, o Governo ganha à mesma.
É uma estratégia rídicula, incoerente, hipócrita e fraca. Essencialmente, fraca. Como têm sido as prestações de todos os Executivos portugueses em Bruxelas desde 1986. "Money is all that matters", é o lema.

sexta-feira, junho 03, 2005

Prece!



Originally uploaded by Papa Amoras.


Sinto, por vezes, um acompanhamento interior que me tolda a explicação;
existe uma respiração tão serena quanto estranha à batida que o mundo toca.
Que UM nos ajude!