quarta-feira, agosto 01, 2007

R.I.P.



Morreu Bergman... Morreu Antonioni.

Em dois dias, o cinema perdeu dois dos seus mais significativos representantes. Cinema esse que se encontra num estado deplorável, apático, letárgico, diria mesmo moribundo. Talvez o desaparecimento destes dois expoentes máximos da chamada sétima arte, signifique isso mesmo, a proximidade de uma morte há muito anunciada (o próprio Louis Lumière duvidava seriamente da sobrevivência desta disciplina, desde sempre dividida entre a faceta artística e um lado prostituto, meramente comercial) e por várias vezes adiada devido aos génios inconformados daqueles que lhe devolveram o fôlego da vida e a chama da arte maior. Recordo como Griffith ressuscitou o cinema do coma prematuro em que se encontrava no início do século XX ao criar e introduzir uma linguagem cinematográfica definitiva (a mesma que ainda hoje conhecemos) que permitiu finalmente o uso de uma narrativa mais completa e complexa, até então impossível, libertando os filmes da sua mera condição de palhaçada limitada a dez minutos e elevando-os às emocionantes história de duas horas que nos deixam agarrados ao ecrã, vivendo essa coisa mágica que é a catarse. Um pouco mais tarde, Eisenstein deu um passo em frente no que toca à montagem, imprimindo um dinamismo sem precedentes ao cinema, transformando sequências de imagens em metáforas simbólicas que deixavam as plateias em êxtase. Outros houve que com estes aprenderam, ou em paralelo deixaram o seu legado e o tornaram numa das formas mais evidentes e abrangentes de comunicação e afirmação, quer de ideais políticos, sociais, económicos ou artísticos. Nas últimas décadas, em especial desde os anos 80 e salvo raras excepções, o cinema tem vindo a fraquejar em ambos os extremos da equação. Sinto que está esgotado, velho, decadente, à beira do ridículo e por consequência, do fim. Redundante. Sobram uns quantos exemplos, poucos, que me levam a crer que o cinema pode sair deste marasmo moribundo, que se divide entre a patética estagnação da vertente industrial e a pseudo-intelectualidade de um vazio sem precedentes em que se encontra de momento. Não fora um certo Inland Empire de um Lynch visionário, muito à frente do seu tempo, ou o Hotel de um Figgis puramente rebelde, eu diria que amanhã o terceiro defunto seria o cinema, ele próprio, a constar nos cabeçalhos dos jornais como “Aquele que morreu por ter chegado ao fim”.

1 comentário:

José Leite disse...

Excelente post!

De facto o cinema tem caminhado para o abismo em vários sentidos. Muito embora a inovação tecnológica tenha dado maior envergadura técnica e uma outra sofistificação, aquele êxtase, aquela magia, aquela classe, visível nalguns filmes de "culto" parece em vias de extinção...