sábado, janeiro 31, 2009

Entre a espada e a parede





O ano começa especialmente mal para um dos pilares económicos deste país.

As alterações na chamada Tributação Autónoma, no P.C. (Pagamento por Conta) e no P.E.C. (Pagamento Especial por Conta), numa altura em que se apregoam ajudas às pequenas e médias empresas, revelam bem a ironia e o sentido de humor negro, tão característicos de um governo do sul da Europa.

Assiste-se, uma vez mais, ao lançamento de uma cortina de fumo que tem como objectivo desviar a atenção dos reais contornos desta chamada "crise" que assola o mundo. Crise essa que por cá, pouca importância tem quando comparada com o mexerico e a iminente escandaleira. Quem é que vai quer saber da Tributação Autónoma e do Pagamento por Conta, quando o 1º Ministro, num ano de eleições legislativas, se vê envolvido num potencial escândalo de corrupção?

Num país de iliteratos, é muito mais interessante (e fácil) especular com grande afinco acerca dos culpados e inocentes (sendo que as massas se entusiasmam mais com os culpados) do que estar atento às decisões do poder que influenciam directamente a vida e as condições de vida daqueles que tanto especulam em vez de estar atentos.

Depois há os chavões mediáticos, de que as pessoas gostam muito mas de que normalmente sabem pouco. Coisas como o Freeport , a 3ª ponte, o aeroporto, o TGV, o BPN ou o BPP, vão servindo de quebra-gelo no dia-a-dia da sociedade. No entanto fica sempre bem ter assunto ou no mínimo opinião, acerca destas coisas. Mas após aquela fase inicial de conversa, em que se lançam para a mesa um apanhado das memórias mais presentes daquilo que se ouviu ou se leu acerca do assunto nos últimos dias (tudo dito em tom de opinião), o que realmente fascina as pessoas, é especular quem estará por detrás disto e daquilo, quem andará a meter dinheiro ao bolso, quem sofrerá as consequências, quem pagará a factura e, em suma, quem será culpado... Ou inocente, claro. O mais curioso é que tal debate, nunca se traduz numa tomada de atitude ou de posição concreta relativamente a coisa nenhuma. Mesmo que se apurem "culpados" e que a certeza seja absoluta, a consequência máxima resultante será sempre e apenas uma carga extra de emoção na abordagem do assunto e todos os actos de revolta contra tal vilania, serão sempre teóricos e jamais passarão a outro formato que não o da ilustração verbal. Parece que esta passividade tem uma raiz genética, contendo uma informação acumulado ao longo dos séculos, que nos faz assumir que, de uma forma ou de outra, estaremos sempre a ser pilhados e ludibriados por quem está no poder, tomando-o portanto como um dado pacífico e adquirido.

Por outro lado, assassinar a carreira política de José Sócrates em ano de eleições, quando a única alternativa é uma senhora cujos recursos políticos variam apenas entre um silêncio absurdo e veementes críticas, demonstrando assim uma falta absoluta de ideias concretas, alternativas e soluções que não passem apenas por colocar a palavra "não" antes de todas as iniciativas e planos do actual governo, não me parece alternativa.

Sinto portanto que estamos entre a espada e a parede. E o problema é a tal da "crise", que muita gente ainda não percebeu que, mais do que um excelente tema para conversas de café (e muito caro aos lusitanos dada a sua fácil conotação com o fado e a desgraça), lhes pode mudar a vida por completo, num abrir e fechar de olhos, enquanto se distraem com a grande novela dos culpados e inocentes.

"Não perca esta noite, mais um episódio de Freeport, a primeira novela portuguesa transmitida por todos os canais em simultâneo, com uma versão diferente em cada um. A escolha a sua..."

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