terça-feira, junho 14, 2005

As minhas recordações de Cunhal - parte II

O meu respeito pela figura histórica de Álvaro Cunhal não é incompatível com a crítica contundente ao seu papel na história do Portugal democrático.
Cunhal lutou convictamente, e pagou conscientemente um preço alto, contra a ditadura autoritária de Oliveira Salazar. E lutou para impôr outra ditadura no lugar daquela. Uma ditatura comunista inspirada no modelo soviético, onde não haveria lugar para a liberdade de expressão e de associação, onde a propriedade privada seria proibida, onde qualquer culto religioso não seria permitido, enfim, onde a cultura do povo português seria total e absolutamente desrespeitada.
Portugal recusou essa ditadura e Álvaro Cunhal perdeu. Mas o 25 de Novembro não evitou que o Partido Comunista Português liderado e orientado por Cunhal colocasse uma marioneta circense chamada Vasco Gonçalves a primeiro-ministro dos II, III, IV e V Governos Provisórios. O gonçalvismo, que não passa de um eufemismo para comunismo, destruiu a economia nacional, nacionalizando as principais empresas e promovendo a ocupação e a destruição da propriedade privada, seguiu a política de descolonização do PCP e entregou os territórios sob administração portuguesa aos movimentos de libertação controlados por Moscovo. Portugal retrocedeu economicamente e socialmente no ano e meio de total desvario de Vasco Gonçalves.
A principal prova disso mesmo é o facto, comprovado estatisticamente, de o nível de desenvolvimento económico nos tempos de Marcello Caetano só ter sido recuperado passados mais de 20 anos.
Além desta influência funesta para os interesses de Portugal, Álvaro Cunhal teve também um papel, ainda hoje pouco esclarecido, na passagem de segredos do Estado português para a União Soviética. Ainda está por esclarecer o papel do PCP no transporte de parte das fichas da PIDE para Moscovo.
Enquanto viveu, e essa é a última crítica que lhe faço, Álvaro Cunhal nunca reconheceu os erros do estalinismo. Cunhal nunca reconheceu publicamente os vários milhões de mortos do regime comunista soviético comandado por Josej Estaline. Essa teimosia fez com que hoje existam autênticos funcionários públicos da política, como o líder parlamentar Bernardino, a elogiar a qualidade da "democracia" da Coreia do Norte.

Álvaro Cunhal é um dos perdedores da história. Felizmente.

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