sexta-feira, junho 24, 2005

Impressões de Verão.



Sai de Lisboa na Quarta, por volta das 19:15h. A2 vazia, muito sol e calor à brava. Viva o A/C! Ia mole. Passou uma bala prateada, um S 320 cdi e a coisa animou, despertei para a vontade de chegar. Espicaça-se a besta, é veloz mas dócil. Deixo-me ir. No fundo, tudo parece parado no tempo. Quase duas horas após a partida, estacionava à porta de casa, o sol ainda não tinha tombado. À noite o café, depois do jantar. Na gelataria de um primo na avenida principal, junto à praia. Juntaram-se os amigos, o grande reencontro. Veio o café e muita conversa feita de: E este? E o outro? Que é feito de fulano? Venham as cervejas!
Era bonita, muito bonita. O seu aroma tropical, de café e canela, exalado de forma inocente mas inevitável, era embalado pelo calor da noite. Uma novidade para os meus sentidos. Até ao momento desconhecia a sua interessante existência. No entanto proibida. É de um amigo. Estava ao meu lado e os vinte e seis graus que os termómetros marcavam pareciam-me nitidamente falsos, baixos demais para a temperatura que eu estava a sentir. Isto na rua. Em casa a tortura flamejante do calor implacável na pele e do outro, que a canela e o café soltaram nas entranhas, tardaram o sono. Suspenso agora num limbo que resvala da realidade recém vivida para a fantasia febril, como se rebola do alto de uma duna de areia fina e quente para a água fria do mar.

No dia seguinte a praia. O ar a trinta e quatro graus e a água parecia próxima dos trinta. Pouca gente, muito pouca gente. Sem raquetes, nem futeboladas (que acabam sempre com a bola na tola, de alguém), nem gritos, nem o histerismo de Agosto, cujas atitudes parecem transpirar um sentimento de:
A-minha-vida-é-uma-seca-e-estes-dias-são-os-unicos-do-ano-que-vou-ter-para-aproveitar-a-vida-e-estou-tão-histérico-que-não-sei-o-que-fazer-e-portanto-tenho-que-aproveitar-ao-máximo-o-facto-de-estar-aqui-logo-fico-em-stress-e-hiperactivo!
Nada disso. Gente calma, que procura o abraço do sol alternado com o baptismo do mar. Água limpa e quente. Raro, absolutamente sublime! Passeios de infância repetidos, pelo molhe, até ao farol. O mesmo companheiro da infancia ao lado, o primo. Conversas amenas, pondo as novidades mais intimas em dia, longe dos ouvidos da geral! O mergulho tardio, arriscando o desafio de sair com os calções secos da praia. Aposta ganha.

Sábado, festa. Da boa. Noite quente, mais uma vez, muita gente nas varandas e terraços do sítio. Cheiros bons, os olhos agradados, perdidos e indecisos. Muita conversa, reencontros, abraços fortes e sentidos, movidos a álcool. Galanteios pontuais, novos conhecimentos, morangoska ao pontapé e um ou outro gin-tónico para desenjoar. Uma verdadeira festa.

Fígado nas últimas, o corpo moído da farra e da praia, trabalho à espera para ser entregue. Estrada, de novo, vazia. Trinta e nove graus no Alentejo, ecos distantes das músicas doidas ainda na cabeça, a pele ainda a estalar do sol. A promessa de um regresso breve. Um sorriso nos lábios e o cheiro a canela e café, a imagem de uma pele luzidia do suor, a distância intransponível da moral e o desejo por ela acentuado acompanharam-me todo o regresso a Lisboa.

Para quem poder, um conselho, Algarve em Junho, este Junho, agora, JÁ!

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