Em primeiro lugar gostaria de chamar a atenção para a forma como o Sr. António Costa define o comportamento dos portugueses na estrada: “sociedade bárbara”. Acho importante salientar isto porque sempre que penso neste assunto, surge-me a mesma dúvida: Se a sociedade é “bárbara”, os seus governantes serão exactamente o quê?
Uma das maiores anomalias intrínsecas ao lusitano é o instinto de imediata auto-desresponsabilização quando confrontado com qualquer espécie de acusação ou problema derivado do seu próprio desempenho. A culpa é sempre de outro que não o mesmo.
No caso das estradas nacionais e da sinistralidade ocorrida nas mesmas, observa-se isso mesmo. Os condutores são bárbaros e portanto a culpa é deles. Deixá-los morrer. Mas se não morrerem, ao menos que paguem e paguem bem por aqueles que morrem. Esta filosofia da culpa encontrada, facilita de sobremaneira a vida a quem devia ocupar-se destes temas. Estudos sociológicos e comportamentais e formas de intervir na mentalidade do condutor português, criando dessa forma a arma mais eficaz para combater o acidente, a prevenção. Tudo isto parece um conto de fadas e algo que nunca passou na cabeça de ninguém que nos tenha governado desde… Que eu me lembro!
E porquê? Porque é que uma intervenção de fundo deste género tem de soar a um sonho? O tipo de coisa que no nosso imaginário só acontece “lá fora”, no estrangeiro? Porque é que salvar vidas nas estradas de um país não é encarado pelos seus governantes com a mesma convicção, seriedade e sensatez que usa um médico para salvá-las num hospital? Será algo impossível de alcançar neste país? Porquê? Porque dá muito trabalho? Porque o prazo até à visível eficácia dessa mesma intervenção supera os quatro anos? Porque ia custar muito dinheiro? E mesmo sendo um centésimo do que custa a OTA, não se pode andar p’rai a esbanjar? Não sei. Talvez uma de cada.
Mas eles até fazem coisas, encontram soluções… As soluções deles é que não me parecem propriamente pensadas para resolver o problema. Parecem-me antes belas fórmulas de gabinete para encher os cofrinhos do estado. O mais estranho é que ninguém parece perceber isto e ninguém, com poder para tal, se manifesta publicamente, alertando à necessidade de direccionar as medidas tomadas a favor da real preservação da vida das pessoas e não contra fatias consideráveis dos seus rendimentos. Exemplo:
Ao fim de seis meses da entrada em vigor do actual Código da Estrada, o panorama era este:
O anti-bárbaro António Costa anunciava com satisfação que o cálculo encontrado pelo MAI apontava para uma média de menos um morto por semana. Facto que A. C. associa directamente ao respeito dos condutores pelo novo diploma e isto é importante.
O panorama positivo é reforçado pela DGV, segundo a qual se registaram, desde a entrada em vigor no novo CE (a 26 de Março) até 26 de Setembro, 545 mortes nas estradas, o que representa uma diminuição de 43 mortos relativamente ao mesmo período em 2004. Parece-me bem, até diria que afinal a coisa até funciona. Mas… Será que funciona?
Depende do ponto de vista! Se recuarmos um pouco no tempo, ao período entre Janeiro e Março de 2005 (em que já era do conhecimento geral que em breve daria entrada em vigor um novo CE bem mais “apertado”) por exemplo. Neste período verifica-se um aumento de sinistralidade mortal de 6,6% e isto torna-se mais grave quando constatamos que o número total de mortos desde o início do ano até 26 de Setembro é de 804.
Uma das maiores anomalias intrínsecas ao lusitano é o instinto de imediata auto-desresponsabilização quando confrontado com qualquer espécie de acusação ou problema derivado do seu próprio desempenho. A culpa é sempre de outro que não o mesmo.
No caso das estradas nacionais e da sinistralidade ocorrida nas mesmas, observa-se isso mesmo. Os condutores são bárbaros e portanto a culpa é deles. Deixá-los morrer. Mas se não morrerem, ao menos que paguem e paguem bem por aqueles que morrem. Esta filosofia da culpa encontrada, facilita de sobremaneira a vida a quem devia ocupar-se destes temas. Estudos sociológicos e comportamentais e formas de intervir na mentalidade do condutor português, criando dessa forma a arma mais eficaz para combater o acidente, a prevenção. Tudo isto parece um conto de fadas e algo que nunca passou na cabeça de ninguém que nos tenha governado desde… Que eu me lembro!
E porquê? Porque é que uma intervenção de fundo deste género tem de soar a um sonho? O tipo de coisa que no nosso imaginário só acontece “lá fora”, no estrangeiro? Porque é que salvar vidas nas estradas de um país não é encarado pelos seus governantes com a mesma convicção, seriedade e sensatez que usa um médico para salvá-las num hospital? Será algo impossível de alcançar neste país? Porquê? Porque dá muito trabalho? Porque o prazo até à visível eficácia dessa mesma intervenção supera os quatro anos? Porque ia custar muito dinheiro? E mesmo sendo um centésimo do que custa a OTA, não se pode andar p’rai a esbanjar? Não sei. Talvez uma de cada.
Mas eles até fazem coisas, encontram soluções… As soluções deles é que não me parecem propriamente pensadas para resolver o problema. Parecem-me antes belas fórmulas de gabinete para encher os cofrinhos do estado. O mais estranho é que ninguém parece perceber isto e ninguém, com poder para tal, se manifesta publicamente, alertando à necessidade de direccionar as medidas tomadas a favor da real preservação da vida das pessoas e não contra fatias consideráveis dos seus rendimentos. Exemplo:
Ao fim de seis meses da entrada em vigor do actual Código da Estrada, o panorama era este:
O anti-bárbaro António Costa anunciava com satisfação que o cálculo encontrado pelo MAI apontava para uma média de menos um morto por semana. Facto que A. C. associa directamente ao respeito dos condutores pelo novo diploma e isto é importante.
O panorama positivo é reforçado pela DGV, segundo a qual se registaram, desde a entrada em vigor no novo CE (a 26 de Março) até 26 de Setembro, 545 mortes nas estradas, o que representa uma diminuição de 43 mortos relativamente ao mesmo período em 2004. Parece-me bem, até diria que afinal a coisa até funciona. Mas… Será que funciona?
Depende do ponto de vista! Se recuarmos um pouco no tempo, ao período entre Janeiro e Março de 2005 (em que já era do conhecimento geral que em breve daria entrada em vigor um novo CE bem mais “apertado”) por exemplo. Neste período verifica-se um aumento de sinistralidade mortal de 6,6% e isto torna-se mais grave quando constatamos que o número total de mortos desde o início do ano até 26 de Setembro é de 804.
A cereja no topo do bolo é o resultado prático do respeito que António Costa acredita existir no coração desses bárbaros amedrontados com o documento. Um recorde de registos de infracções muito graves parece ter sido a resposta dos mesmos bárbaros ao novo CE que, no ano da sua estreia, assiste já a um aumento de 101% face ao período homologo em 2004, são 24.956 ocorrências verificadas em 2005 contra as 12.053 em 2004.
Acho que os bárbaros não vão deixar de ser bárbaros enquanto alguém não se preocupar com as suas vidas em vez das suas carteiras.
Acho que os bárbaros não vão deixar de ser bárbaros enquanto alguém não se preocupar com as suas vidas em vez das suas carteiras.
1 comentário:
Já uma vez abordei este tema em conversa e mantenho que na realidade a sociedade portuguesa é bárbara, mas não é só na estrada! Eu também serei, mas se não me vierem bater duvido que vá de encontro a alguém. Chamo-lhe condução defensiva, porque a minha vida e a vida seja de quem for, homem ou animal, vale tudo; e vale tudo porque não sei se podemos comprar novas vidas ou se o nosso jogo vem com mais do que uma. Assim, prefiro não arriscar.
Outra coisa: onde nenhum governo arriscou é na educação nas escolas 'básicas'.
Numa democracia como a nossa existe alguma repulsa pelo 'respeito'; fica toda a gente muito enxofrada porque se confunde respeito com falta de liberdade. Isto é o exemplo da atitude de um povo que não é educado e aí tens razão numa coisa: a maior parte dos políticos actuais não são educados no sentido de perceberem o verdadeiro significado das palavras e a confusão é total (corta nas Humanidades e vê o resultado!).
Investimento para a malta deixar de se matar nas estradas, e temos obrigação de fazermos melhor que os desenvolvidos da moda (ingleses, alemães, etc.) é na educação básica, é fazer ver e ensinar que um cidadão que não respeite o seu semelhante em todas as circunstãncias tem apenas um nome: cretino!
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