Claude Monet
Eis que chegámos ao fim do Verão. É tempo de voltar ao trabalho, ao stress da cidade, ao convívio com os rostos conhecidos, aos locais por algum tempo esquecidos. Para trás ficam o mar, o calor infernal (mas tão bom), o descanso cansado e as vergonhas de um país queimado.
Foi mais um ano excelente para o negócio do fogo e, ao avaliar as medidas anunciadas pelo governo (e porque não sobra muito mais para queimar), atrevo-me a dizer que este talvez seja o último, pelo menos com as dimensões a que nos temos vindo a habituar. Para as televisões isto será um drama em termos de audiências. A partir de agora, durante o Verão, vai ser mais difícil conseguir a quantidade monstruosa de material vendável que os incêndios proporcionam. Dantes eu achava que era a espectacularidade das chamas gigantescas e a bravura dos homens que as combatem que faziam vender o peixe a essa cambada abutres necrófagos, mas este ano percebi que não. É ainda pior e mais decadente. O que vende pelos vistos são os gritos e as lágrimas daqueles que tomados de uma total inépcia constatam o tudo perdido, queimado, enegrecido. Ponham umas senhoras aos gritos, a dizer que já não têm nada e aquilo vende. Os homens não rendem tanto, choram menos e não gritam, pelo menos não com a estridente frequência aguda que a mim me faz desejos de rebentar a televisão, ou mais pacificamente, mudar de canal. Nada mais interessa. Umas entrevistas de conteúdo vago com uns presidentes da Câmara, ou das Juntas, uns bombeiros exaustos, umas árvores a arder… Tudo acessório, servindo apenas para compor a reportagem e “ensanduichar” o essencial, a gritaria das senhoras que tudo perderam. Ás vezes há uns bónus, animais esturricados ou alguém que morreu. Também isso vende bastante, mas é mais raro e arrisca (no caso dos bichos calcinados) a que certa gente mais sensível mude de canal. O problema é que os velhos (e Portugal está cheio deles), parecem hipnoticamente atraídos por tudo quanto é desgraça e trágico fado, dos outros claro. Os gritos de sofrimento são baladas de encantar e a perda de vidas inteiras alimentam a catarse daqueles que, tendo perdido as suas, se deixam definhar em frente ao aparelho esquecendo o mundo inteiro de que ainda podem desfrutar, mas que se tornou perigoso demais, porque o enervante objecto parlante assim lhes diz e disso os convence. Por isso o melhor é ficarem ali, sentados a morrer lentamente, embalados pelas desgraças que os vão aproximando da cova e aumentando o temor a Deus e aos homens.
Agora, só para desanuviar, vou armar à revista da moda e fazer uma pequena lista de “MAIS” e “MENOS” deste Verão:
MAIS:
Tamariz (Estoril) – A selva, no bom sentido. O único sítio com vida nocturna a sério para quem fica por Lisboa ou arredores em Agosto. Pouca roupa e muita acção num espaço agradável em frente ao mar.
Foi mais um ano excelente para o negócio do fogo e, ao avaliar as medidas anunciadas pelo governo (e porque não sobra muito mais para queimar), atrevo-me a dizer que este talvez seja o último, pelo menos com as dimensões a que nos temos vindo a habituar. Para as televisões isto será um drama em termos de audiências. A partir de agora, durante o Verão, vai ser mais difícil conseguir a quantidade monstruosa de material vendável que os incêndios proporcionam. Dantes eu achava que era a espectacularidade das chamas gigantescas e a bravura dos homens que as combatem que faziam vender o peixe a essa cambada abutres necrófagos, mas este ano percebi que não. É ainda pior e mais decadente. O que vende pelos vistos são os gritos e as lágrimas daqueles que tomados de uma total inépcia constatam o tudo perdido, queimado, enegrecido. Ponham umas senhoras aos gritos, a dizer que já não têm nada e aquilo vende. Os homens não rendem tanto, choram menos e não gritam, pelo menos não com a estridente frequência aguda que a mim me faz desejos de rebentar a televisão, ou mais pacificamente, mudar de canal. Nada mais interessa. Umas entrevistas de conteúdo vago com uns presidentes da Câmara, ou das Juntas, uns bombeiros exaustos, umas árvores a arder… Tudo acessório, servindo apenas para compor a reportagem e “ensanduichar” o essencial, a gritaria das senhoras que tudo perderam. Ás vezes há uns bónus, animais esturricados ou alguém que morreu. Também isso vende bastante, mas é mais raro e arrisca (no caso dos bichos calcinados) a que certa gente mais sensível mude de canal. O problema é que os velhos (e Portugal está cheio deles), parecem hipnoticamente atraídos por tudo quanto é desgraça e trágico fado, dos outros claro. Os gritos de sofrimento são baladas de encantar e a perda de vidas inteiras alimentam a catarse daqueles que, tendo perdido as suas, se deixam definhar em frente ao aparelho esquecendo o mundo inteiro de que ainda podem desfrutar, mas que se tornou perigoso demais, porque o enervante objecto parlante assim lhes diz e disso os convence. Por isso o melhor é ficarem ali, sentados a morrer lentamente, embalados pelas desgraças que os vão aproximando da cova e aumentando o temor a Deus e aos homens.
Agora, só para desanuviar, vou armar à revista da moda e fazer uma pequena lista de “MAIS” e “MENOS” deste Verão:
MAIS:
Tamariz (Estoril) – A selva, no bom sentido. O único sítio com vida nocturna a sério para quem fica por Lisboa ou arredores em Agosto. Pouca roupa e muita acção num espaço agradável em frente ao mar.
GNR (BT) – Embora não perdoem (o que dói, a mim doeu-me 250,00 €) e as “operações STOP” soem a uma grande “tanga” (o que interessa não é salvar vidas, mas encher cofres), o facto é que os agentes estão cada vez mais polidos e educados. Comunicam de forma coerente e compreensiva com o público alvo (a malta jovem dos 18 aos 35 que anda nos copos) e pode dizer-se que quase atingem o estatuto de “baris”.
Algarve (Água do Mar) – Três meses de água quente e quase sempre limpa. Ao contrário de tudo o que depende da intervenção humana: Algarve - A natureza no seu melhor.
Casa da Guia (Cascais/Guincho) – Um dos sítios mais agradáveis nos arredores de Lisboa para se tomar um copo ao fim da tarde ou jantar nas noites quentes do Verão. Acolhedor, simples e de certa forma original, não sofre do pretensiosismo característico deste tipo de oásis da qualidade de vida.
C.I.’s (Corpo de Intervenção) – Treinados para bater e controlar multidões, são de uma grande eficácia na resolução dos problemas característicos de noites quentes com muito álcool à mistura. Resolvem e fazem esquecer qualquer cena de pancadaria em cerca de um minuto e vinte e três segundos, contados ao cronómetro, trazendo de volta num ápice, a paz e serenidade de uma calma noite de Verão.
MENOS:
Algarve (Turismo) – Junho e Julho sem ninguém e em Agosto a abarrotar. A maior discrepância de que tenho memória. Sempre desagradável pelo excesso dos extremos. A falta de infra-estruturas para as grandes enchentes de Agosto, tornam o Algarve num verdadeiro pesadelo. Pior até do que Lisboa na altura do Natal. No entanto é de assinalar o crescente civismo sentido nas praias, onde verifiquei uma acentuada diminuição de jogos de futebol organizados por animais acéfalos “em cima” das pessoas e outras barbaridades desrespeitosas afins, tornando tudo mais calmo e agradável.
Televisão Portuguesa (Canais Generalistas) – Deplorável. Do pouco que vi tive vontade de não ver mais. Especial relevo para os noticiários com a sua postura brejeira e populista, denotando a crescente falta de rigor e moralidade (sobretudo no que toca aos incêndios). Há quem fale mal da ficção portuguesa (séries, novelas e programas humorísticos), mas atente-se na forma como é tratada a realidade e de repente tudo isso parecem programas de luxo.
Governo – Cada vez menos preocupado em disfarçar o seu papel de fantoche ao serviço dos grandes interesses económicos. Vergonhosa actuação dos seus membros em diversas ocasiões muito em especial no tema do fogo.
Fogo – Agora sim foi o limite. Já ninguém duvida que a mão criminosa não é a de uns loucos espalhados pelo país com fósforos e latas de gasolina. A máfia do dinheiro mostra os dentes em Portugal e o povo fica a ver, de braços cruzados e lágrimas nos olhos.
Clube K – Um espaço agradável e bem conseguido. Infelizmente corre-se o risco de o staff, talvez pelo espírito contagiante da clientela, encarnar a ideia de que também eles estão de férias. Numa noite com pouco movimento (sim, pouco movimento na segunda quinzena de Agosto) é mais ou menos assim: Um porteiro com ar de mau, como parece ser da praxe no grupo K; Uma porteira mágica (não está lá quando se entra, mas quando se sai: tcha-raam…); Um consumo mínimo obrigatório de 15,00 € (que só dá direito a uma bebida, o que se torna muito mais caro que o Lux); E uma menina (única) da caixa que entrega os tais cartões obrigatórios e que também não está lá. Esta não por magia, mas porque faz anos e foi beber uns shots com os colegas! E eu? Quanto tempo tenho de esperar até poder beber os meus? Ridiculamente pretensioso, um estabelecimento que quer primar pela exclusividade e onde nada funciona.
Segurança Social (Av. Da República) – Dois dias lá passados para pagar a “cotas” em atraso ensinaram-me o seguinte: Uns tipos que se dizem "aflitos" de dinheiro e falidos não têm uma porcaria de um terminal de MultiBanco para RECEBER DINHEIRO! Senti-me um pouco estúpido por ir tão prontamente dar dinheiro aos coitados e no fim ter de lá voltar no dia seguinte (porque não uso cheques nem sou obrigado a usá-los) com um bolso cheio de notas. Concluo portanto que afinal, a alegada falência desta instituição deve ser mentira. Quem precisa de dinheiro, a primeira medida que toma é a de não deixar desculpas a quem tenha de o pagar, o que nitidamente não é o caso. A outra coisa que aprendi foi que tenho uma grande resistência ao calor. No primeiro dia suportei uma fila (em pé o tempo todo) durante quarenta minutos num edifício SEM AR CONDICIONADO (será para dar o tal ar de que não têm dinheiro e estão na banca rota?) em que na rua se faziam sentir 33ºC e não desmaiei! No segundo dia foi bem pior. Enfrentei uma fila durante uma hora e cinquenta minutos (também sempre de pé) e com temperaturas no exterior na ordem dos 36ºC. Lá dentro fazia mais calor do que na rua, talvez devido à quantidade impressionante de gente, em stress e de pé, que havia por metro quadrado. Ai também não desmaiei e foi um enorme alívio sentir os frescos e saudáveis 36ºC na avenida quando sai do dantesco edifício. Pergunto eu, para onde vai o meu dinheiro enquanto contribuinte se a Segurança Social (e coitadas das pessoas que lá trabalham) no ano de 2005, em pleno séc. XXI, NÃO TEM MULTIBANCO NEM AR CONDICIONADO? Até a roulotte das pitas shuarmas do Campo Grande tem MultiBanco meus senhores e hoje em dia qualquer barraca ou carrito da tanga traz ar condicionado!
PS – A Segurança Social na loja do Cidadão, à qual é feita uma propaganda fabulosa a dizer que tratam de tudo (até têm uns posterzinhos engraçados a falar nisso) também tem os seus truques na manga. É que eles dizem que se pode tratar lá de tudo, mas esquecem-se de dizer que lá NÃO HÁ TESOURARIA! Ora tudo isto me leva a crer que a Segurança Social não está muito preocupada com o dinheiro que tem a receber, senão tomaria todas as providências para recebê-lo. E depois ainda vêm dizer que estão falidos? Devem estar a brincar comigo!
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