sexta-feira, dezembro 30, 2005

Natal Pobrezinho!



Mais um. Felizmente já foi! Atropelos, encontrões, stress em barda, discussões. Gente rude que nunca pegou num carro, bichas infindáveis para todo o lado. Famílias inteiras, rebanhos à solta, tempo perdido, pouco dinheiro e o desejo secreto de comprar o mundo inteiro! Aperta o cinto até Janeiro. Angustia crescente, proporcional ao esvaziar da carteira, dores de barriga uma noite inteira. Nascimento de quem? Acho que não conheço! Do Pai Coca-Cola até sei o endereço! E olhar especado, no meio de uma praça, para uma árvore gigantone de metal… É assim e cada vez mais o nosso querido Natal!

Eu até gosto, mas longe da romaria comercial e de todos os locais onde possa vir a cruzar-me com bandos vidrados que, coitados, parecem não saber muito bem o que fazem ali. No entanto safei-me, a coisa até correu bem. Dos espanhóis importei a ideia das prendas no dia dos Reis (mais coisa menos coisa). Em geral, a malta faliu toda até ao dia 25 de Dezembro e os que resistiram a essa ruptura financeira não passam de dia 31. A partir de 1 de Janeiro é uma altura fantástica para se comprar as prendas em falta. Toda a gente está calma, as lojas estão vazias e a única fila que se corre o risco de apanhar numa caixa, é formada por todos os que vão a correr trocar as prendas que não lhes interessa. Os vendedores e empregados em geral estão calmos e bem dispostos. Primeiro porque já festejaram tudo o que havia para festejar até ao Carnaval. Segundo, já descomprimiram do stress sofrido nos dias anteriores com duas ou três bebedeiras que resolveram o assunto. Depois, dada a improbabilidade de alguém se pôr a fazer compras nos primeiros dias do novo ano, quem o faz é sempre muito bem atendido. Enfim, mas isto é a minha perspectiva pessimista do Natal (ou melhor, daquilo que o colectivo faz ao Natal). Posso muito bem estar errado no meu pessimismo. Talvez haja quem goste da confusão.
No fundo, aquilo que mais me custou este Natal, foi mesmo esta notícia! É sinal que continuamos um país de terceiro mundo com roupas de plástico. Imitações baratas dos belos tecidos usados pelos do primeiro. É um fingimento atroz, que muito deve enervar e afligir os países que há anos sustentam este mero vagabundo que, na sua farpela sempre rota, gasta os milhões da esmola em putas e vinho verde e ainda assim estende a mão a pedir mais. Um país bonacheirão e bem parolo, onde se veneram as multimilionárias catedrais, por vezes largadas às moscas, dessa droga acessível, muitas vezes único interesse real numa vida inteira de vazio, que é a bola e se deixa demolir sem grandes dramas, de qualquer espécie, a casa de um homem que entrou para a história por mérito do seu talento. Numa cidade, pelos vistos falida, onde cada buraco que se abre é uma fortuna deitada ao mesmo… Mas para isso, haverá sempre dinheiro!

1 comentário:

João Santos disse...

MUITO BEM!
E agora venham dizer que o culpado foi o 'velho'!
Responsáveis hoje? Não há! Estão sempre em férias.