domingo, agosto 21, 2005

O Inferno! Procuram-se: responsáveis.










Foto Diário Digital

O Inferno do terrorismo incendiário, em Portugal!

O Governo fala em iniciar os movimentos de prevenção depois da época dos incêndios ou depois do Verão, que é a mesma coisa: não deverá passar de mais um disparate, ou de mais uma mentira (porque, até hoje, todos os Governos, especialmente de há 3 ou 4 anos para cá, dizem a mesma coisa e fazem zero e é politicamente correcto dizê-lo e não fazê-lo, etc.).
Diz o 'primeiro': "Portugal não se pode resignar a esta tragédia anual".
Esta é a frase que, circunstancialmente, qualquer cidadão pode proferir. Entretanto, e quem a profere é alguém que tem o dever institucional de ser concreto em medidas de salvaguarda do património nacional, porque para isso se comprometeu quando tomou de facto o lugar, em cerimónia de características centrais.

A questão que se põe, pelo ridículo e pelo drama é:
- Quem está a ganhar com os incêndios assassinos em Portugal?
- Ou existem telhados de vidro e ninguém parece poder mexer-se?
- E o jornalismo de investigação: para quando?

Alguém acredita apenas em que condições meteorológicas severas ou tradicionais descuidos dos portugueses, em geral, possa levar a um estado de catástrofe como o que se vive hoje em Portugal?

O crime hediondo que se está a cometer em Portugal tem um nome: terrorismo!

Porque se esconde o que parece estar à vista de todos?
As estatísticas, no que concerne à massa territorial ardida comparativamente com os outros parceiros da UE,
não mentem: somos a anormalidade. Repito que o acaso não provoca esta quantidade desmesurada de incêndios, nem, tão pouco, os factores naturais. Impossível!
As condições de seca foram e são muito graves para Portugal, mas outros países (vizinhos!?) também comeram desse pão! E os resultados? Afinal, até parecem ser os nossos competentes fogos que invadem a vizinha Galiza!

Este é o dossier mais negro da história democrática portuguesa, a nódoa que ninguém vai tirar a tantos responsáveis políticos que nunca fizeram aquilo que é o mais desejável e vale mais que tudo na sua condição de responsáveis: ter a capacidade de perceber os contornos naturais, sociais e políticos dos fenómenos com que se confrontam no seu dia a dia, de modo a poderem exercer a capacidade de prever - (
desejavelmente) sempre a tempo e na tentativa de evitar o que se torna, por incúria, inevitável.

Por isso são políticos e não são bombeiros. Os bombeiros sofrem com a incapacidade dos políticos. O bombeiro apaga o fogo, o político prepara o terreno para facilitar a vida ao bombeiro. Isto é a normalidade. As pessoas votam em candidatos para que este sentimento subsista no seu dia a dia.
Em Portugal parece ser o trabalho dos políticos o contrário do que deverá ser a norma: o político está cá para complicar a vida ao bombeiro.

A pergunta seguinte é: e mesmo que existam uns pirómanos espalhados por aí (e não serão poucos) será possível conseguir esta eficiência na produção cirurgica de incêndios?

Naturalmente que não, porque de outro modo estaríamos com as nossas contas externas de muito boa saúde. Exportaríamos, decerto, especialistas incendiários em doses maciças para estranhos locais onde se perpetra o terror. Assim, resta-nos a certeza de que algo de excessivamente escuro deverá estar a passar-se na anormalidade chamada Portugal.

Há menos de uma semana chegou um pedido de ajuda à Europa, como se toda a gente tivesse sido apanhada pela surpresa!
Incrível o facto de só agora se haver chegado a este magnânimo pedido. Alguma vez o senhor Costa (ou mesmo o senhor Sócrates, lá do seu estatuto de viajeiro, em alturas de crise
) esperavam poder controlar algo desta imprópria situação até ao final das vindimas?
Ao mesmo tempo avançam uns soldados com uns ramos de árvores, já partidos, em direcção ao fogo, esse Adamastor dos anos actuais. Até a própria GNR tem ordens para avançar na ajuda a alguns aflitos!
Não será incrível e verdadeiramente estranho só ter acontecido agora?

Estou a lembrar-me daquele secretário de estado que na Assembleia da República falou que não havia dinheiro para colocar guardas florestais, em número de 1000, nas zonas críticas e que só havia sido disponibilizado gente em número de 30, por magreza orçamental! E lançou esta indicação com um ar de quem havia feito o seu trabalho de forma zelosa, o que até nem se discute! Discute-se é a atitude política.

O Presidente Regional dos Açores manda avançar alguns bombeiros, por meia dúzia de dias em comissão, e crítica as corporações de bombeiros continentais por não avançarem na ajuda aos colegas de outros concelhos em dificuldade!
Demagogia, agora por via marítima.
Como se não estivesse toda a gente à espera de mais ataques, até mesmo nos locais onde habitualmente acontecem, e por razões de origem sobrenatural, não aconteceram - talvez milagre para uns e castigo de Deus para outros. Fartai, vilanagem!

O senhor Sampaio, refeito dos concertos de Verão, não deveria ter uma palavra a dizer? Uma acção decisiva, quiçá, exemplar? Mas parece que não. O senhor Sampaio está, como eu, apenas muito solidário com os aflitos das fogueiras nacionais. E, o que se torna mais kafkiano, reúne-se com os responsáveis pelos bombeiros, em encontros destinados a procurar saber não se sabe o quê e para resolver o quê!

Um país assim teria hoje as condições necessárias para se enquadrar numa moldura europeia de unidade política e económica? De esperança de ontem qual será o nosso estatuto de hoje por parte de quem nos vai observando e decepcionando amiúde com as nossas debilidades intrínsecas?

Até os bombeiros profissionais franceses interrompem as férias porque se dizem agoniados com as imagens que diariamente vêem passar nas estações de TV, incrédulos com o massacre a que está a ser sujeito Portugal.
Dramático, patético e tão básico que mete dó!

A quem é que interessa este inferno?




3 comentários:

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Começa por interessar às empresas privadas de combate ao fogo com meios aéreos...

Afonso Henriques disse...

...e a seguir aos que beneficiarão, directa ou indirectamente, com a extinção do actual regulamento da RAN (Reserva Agrícola Nacional) e da REN (Reserva Ecológica Nacional), e a sua entrega nas mãos dos autarcas.
Ao que parece será já em Outubro...
É a chamada "regionalização a quente".
Como não se conseguiu com o referendo, consegue-se com o fogo.
E ainda sobra tempo, oportunidade e vontade para sacudir as responsabilidades em cima dos "grandes proprietários" e dos "grandes latifundiários" que por não limparem as matas são os grandes responsáveis pelo cinzeiro em que se transformou Portugal.

Anónimo disse...

Super work performed.