domingo, maio 29, 2005

Só!



Após os laivos de esperança que alimentam movimentos perdidos, mais uma vez me encontro só. Desperto, irrequieto no meu leito. Movido por um impulso inconsciente do desejo, procuro o calor, a seda da pele, as curvas magistrais de um corpo que não encontro. Passadas as lágrimas, conquisto a coragem de me permitir novamente sonhar. Percorro esse manto negro e estrelado, movido por um fogo que alimenta a esperança. E mais uma vez regresso, só.
Olhos? Muitos, cheios de brilhos e promessas. São distâncias medidas, nada mais. Promessas de olhares que não cumprem. Nos lençóis vazios morro mais uma noite à espera de renascer no dia seguinte. Um calor perdido na memória, que já não existe, vive apenas nesse fantasma que habita os meus sonhos acordado. Deitada a meu lado, tento tocá-la e sinto o vazio, o frio de um lugar há muito desocupado. Novos calores, novos olhares, novos sabores, tudo mentira, triste ilusão. Desejo traído. Mais uma noite, só. Perdido o sentido, vagueio no espaço da memória tentando fugir da realidade inglória. Qual dói mais? Já não sei.
Príncipe encantado, castelo elevado, coche dourado, leão amestrado… E no entanto só, deitado, no calor apagado, com o olhar desfocado da água que corre impelida pela dor do vazio. A dor do frio, o olhar pousado em quem não vejo, a esperança que se esvai. O medo que me trai. Como rosas mortas que mais não fazem senão lembrar apenas a beleza de uma vida outrora alegre e viçosa que já não o é. Assim são as memórias e as esperanças de quem está só!

2 comentários:

bpedro disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
bpedro disse...

Como eu te entendo...

Tudo existe, como sempre existiu, mas já nada é colorido.

Nem todo o poder, nem toda a riqueza que um homem possa ter se comparam a essa tão boa sensação de calor.

Parece que os dias são todos iguais e que não há um objectivo senão o material. Tudo são desculpas, ilusões criadas para evitar sentir a falta.

Como eu te entendo...