quarta-feira, junho 22, 2005

Tiro pela culatra - conclusão

E só para terminar, uma outra questão. Desde a morte de Álvaro Cunhal e de Vasco Gonçalves uma certa esquerda festiva enfatizou as "conquistas sociais" da extrema-esquerda de Cunhal e do camarada Vasco. E o muito que o PCP contribuiu para isso. Alguns deles caíram na asneira de tomas certos "direitos sociais" implementados pelo Estado Novo como conquistas de Abril. Marcello Caetano deveria ter os louros da construção de algumas bases do Estado-Providência, mas a ignorância e a má-fé que hoje caracteriza os herdeiros do "Vasco" e do "Álvaro" leva-os a dizerem e a escreverem enormidades históricas.

Foi Marcello Caetano - um falhanço no plano político, mas que deixou obra no plano económico e social - quem extendeu a Caixa de Previdência ao mundo rural que pouco ou nada descontava para a Segurança Social, alargando aos trabalhadores rurais - muito mais que 25 por cento dos empregados a nível nacional, nessa altura, salvo erro - o abono de família; a assistência e subsídio de doença; o subsídio de casamento e um subsídio de natalidade por cada filho nascido; e o subsídio de aleitação. Todos estes benefícios sociais foram mais tarde alargados às empregradas domésticas.
Também os pescadores - na altura um número apreciável - ganharam maior protecção social, com as chamadas pensões de sobrevivência para as viúvas.
Os funcionários públicos, por seu lado, ganharam uma ADSE devidamente financiada. De 1968
até 1973, por exemplo, os beneficiários passaram de pouco mais de 10 mil para cerca 400 mil.

Poderia continuar, porque o inventário é extenso, mas não vale a pena. Isto só para dizer que muitas das conquistas sociais que alegadamente correspondem ao património do 25 de Abril, de facto não o são. É uma questão de verdade histórica.

Tal como é uma verdade histórica escrever que quem conseguiu para Portugal o estatuto de membro associado do Mercado Comum (em 1973) foi Marcello Caetano. O processo que levou à adesão de Portugal à CEE em 1986 começou nessa altura e não com Mário Soares, já depois do 25 de Abril.

E já não vale a pena falarmos do progresso económico que o país conheceu durante o período marcelista e que foi interrompido pelo choques petrolíferos e pelo período revolucionário nascido do golpe de Estado do 25 de Abril.

Mas a democracia nascida a 25 de Abril e renascida a 25 de Novembro perdoa o retrocesso económico provocado pela revolução? Na minha opinião, sim. Desde que não se esqueça o lado positivo do passado. Que também existe.

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