segunda-feira, junho 27, 2005

Um bom exemplo de imparcialidade jornalística

"Facto nunca visto numa conferência de imprensa europeia, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, foi aplaudido várias vezes por largas centenas de jornalistas no final da cimeira de líderes da União Europeia que terminou na madrugada de sábado com o fracasso das negociações orçamentais comunitárias".
"Os aplausos transformaram-se em verdadeiras ovações na quarta-feira, no Parlamento Europeu, antes, durante e no final do seu discurso de apresentação aos eurodeputados do balanço do seu semestre na presidência rotativa da UE que termina a 30 de Junho". (...)
Excerto de uma notícia de Isabel Arriaga e Cunha no "Público" de 24 de Junho

Este é um comportamento verdadeiramente vergonhoso. Elucidativo, é o facto de a repórter do Público comparar e ligar "os aplausos" de jornalistas - isto é, de mediadores, supostamente independentes, entre Juncker e a Opinião Pública - às ovações dos eurodeputados.
Não são a mesma coisa, porque são dois tipos de agentes com responsabilidades e competências diferentes e, às vezes, opostas.
Os jornalistas informam a Opinião Pública sobre a actividade dos agentes e protagonistas europeus. Logo, os "aplausos" dos jornalistas não podem ter como continuação as "ovações" do parlamentares.
Os "aplausos" são eticamente reprováveis. Não está propriamente em causa uma declaração forma de guerra entre a Grã-Bretanha e a Alemanha ou o fim da União Europeia. Uma coisa é Juncker merecer simpatia de quem conviveu profissionalmente com ele durante 6 meses. Outra coisa é exteriorizar sentimentos pessoais, colocando em causa a imparcialidade a que os jornalistas estão obrigados.

Os jornalistas não podem transformar-se em agentes e/ou actores políticos. Caso contrário, deixam de ser jornalistas, para passarem a ser simples membros de uma claque futebolística.

Este episódio deixa a dúvida sobre a independência e a imparcialidade que os jornalistas/correspondentes, sejam de que nacionalidade forem, sedeados em Bruxelas têm para acompanhar a vida dos diversos órgãos da União Europeia situados na capital belga, no Luxemburgo ou em Estrasburgo.

O que será que o meu caro DD e Paulo Gorjão - bloger sempre atento ao jornalismo que se pratica em Portugal e no resto do Mundo - pensam sobre esta atitude dos "eurojornalistas"?

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