quarta-feira, junho 22, 2005

Tiro pela culatra - parte 2

Recuando devagar, devagarinho o João Pedro lá vai mudando, ou melhor, moderando a sua posição. Vamos por partes:

1 - JPH continua a ignorar, ou a fazer-se de parvo, quanto à organização estalinista que foi e é o Partido Comunista. Concentrando-me só no passado, constato que o João Pedro considera totalmente irrelevante que o PCP, liderado por Álvaro Cunhal, tenha executado, como já recordei, sumariamente um alto dirigente do partido por "traição". O que só me pode levar a concluir que o JPH é complacente com o estalinismo.
Eu dou relevância a todos os presos políticos - comunistas, anarquistas, entre outros - que morreram no Tarrafal ou noutras prisões salazaristas, assim como considero relevante historicamente a perseguição política de que todos os opositores ao regime foram alvo.

2 - JPH escreveu que "a Cunhal devo a liderança na luta contra a ditadura". JPH, como o Mascarenhas recorda e bem, ignora que o combate ao Estado Novo também se fez por "dentro". O papel histórico da ala liberal liderada por Francisco Sá Carneiro foi totalmente escamoteado. Ao contrário do que JPH afirma - "que na chamada direita democrática, não conheço ninguém que tenha tido um papel de relevo (liderante) tanto no combate ao Estado Novo como no combate a Cunhal, após o 25 de Abril" - a existência, durante a primavera marcelista, de um grupo organizado na Assembleia Nacional (AN) que pensava de forma diferente de ultras, como por exemplo, Casal Ribeiro, é um facto político da maior importância. JPH não deve saber, ou finge não saber, mas a ala liberal tentou apresentar, entre outros, um projecto-lei que visava a instauração de uma verdadeira liberdade de imprensa em Portugal. O próprio Sá Carneiro, depois da sair da AN, continuou a combater polticamente o regime no "Expresso" .
Meu caro, nem os comunistas lideraram nenhum combate nem foram os únicos a combater o regime. O lado "heróico" do combate político na clandestinidade pode fascinar-te, mas não era a única maneira de combater o regime.

3 - Do ponto de vista jurídico e científico, como se ensina em qualquer Faculdade de Direito, o Estado Novo não foi um regime totalitário, não foi um regime fascista. Foi um regime autoritário, uma ditadura que fez algumas coisas boas e muitas coisas más. O balanço dos mais de 40 anos de salazarismo, na minha opinião, é claramente negativo para Portugal
De qualquer das formas, não é "relativismo" afirmar que o regime salazarista foi diferente do regime nazi e do regime de Mussolini. É um facto jurídico, político e histórico. Basta comparar as leis do Estado alemão e italiano durante os reinados de Hitler e Mussolini para chegarmos a essa conclusão. E se quiseres também podes comparar o regime jurídico salazarista com o da União Soviética para aferir a diferença entre autoritarismo e fascismo.

4 - Dizes tu: "A questão não é «intolerância»; é mais falta de paciência. Todos temos a mesma legitimidade para dizermos o que nos apetece; mas nem todos temos a mesma autoridade. A questão é essa: autoridade". Só uma pergunta: tu combateste o salazarismo? Combateste o comunismo em 74/75? Tendo em conta os teus 35 anos é um bocado difícil. Qual é a tua autoridade especial para dizer que a direita não combateu?

(cont.)

Sem comentários: