sábado, junho 11, 2005

A UE e o Milhafre

Só por falta de oportunidade, no caso, física, por abstinência do teclado e do servidor, sem falar de outros aspectos referenciados no talento das urbes, não me foi possível abordar o manifesto apresentado pelo concludente Milhafre, uns dias atrás, em pleno estremeção do edifício europeu.

Ora, estimado Milhafre, “ao estabelecer em letra de lei que o direito da União Europeia (UE) se sobrepõe ao direito dos Estados-Membros, o Tratado Constitucional pode estabelecer formalmente o federalismo”
. Mas, e daí?

Poderia pensar convidar o meu caro colega, de espaço aéreo, a trazer à conversa a questão europeia, num qualquer horário do nosso comum voo, mas o facto é que o meu amigo, encontrando-se no seu pleno direito, define-se como ‘soberanista’.

Agora, imagine a dificuldade que se me coloca ao pretender debater o assunto perante um pássaro português (e europeu!), que confessa, pelo menos, 6 razões para votar “não”, nesta fase de efectivo desenvolvimento europeu, ao projecto de Constituição!
É claro que não estão em causa hipotéticas razões e sim um princípio de fundo, princípio, este, absolutamente redutor, na actual grande controvérsia: - o meu amigo Milhafre assume que na Europa se devem defender apenas tratados de conteúdo económico e social; nunca políticos!

Quando o meu amigo defende que “Portugal não pode permitir que leis de outros Estados ou entidades a que pertença se sobreponham de forma total ou parcial ao enquadramento jurídico definido pelos cidadãos portugueses”, está apenas a afirmar a sua indisponibilidade para poder vir a aceitar que Portugal possa vir a integrar qualquer união, politica e económica, porque, e devemos ser precisos na análise do discurso, qualquer tipo de união pressupõe cedências de todas as partes envolvidas.
Assim, e deixe-me dizer-lhe, o meu caro Milhafre não está disposto a discutir os artigos do que se pretende venha a ser a Constituição da UE; o meu amigo simplesmente não quer discutir o assunto UE, porque, e no momento presente, não concorda que essa união passe a figurar como um facto próprio e real do desenvolvimento do Homem europeu e universal.

A sua posição, presumo-a difícil, em função do caminho percorrido até aqui por todos nós, os habitantes deste espaço, que se quer mais mental que geográfico, chamado Europa. E mesmo que a minha passasse a ser uma difícil posição, pela enormidade de obstáculos, naturais e não só, que se poderão erguer contra esta ideia urgente, a minha convicção continuaria a ser igual: crente num ser europeu e universal, conhecedor da injustiça provocada pela procura das hegemonias, que terminam em guerras e futuros negócios sob a tutela do sangue, fundamental na arbitragem de um mundo cheio de problemas tremendos e de equilíbrios avessos, mas ainda primos da história universal.
Ainda mais: mesmo que saiba da impossibilidade da existência do ser que acima descrevo, não poderei deixar de pensar que o caminho não deve ser diferente deste, para poder dormir um pouco melhor, por dentro da noite, sempre que ela chegar.

Amigo Milhafre: não se esqueça que este passarinho não tem sonhos, para lá do possível, no que diz respeito ao vírus comummente designado por Homem!

Pena não podermos discutir os artigos do projecto, por duas razões: uma delas tem a ver com o facto de o meu amigo se recusar a isso, pela sua irredutível posição, como soberanista; a outra tem a ver com o facto de também eu pensar não ser este o projecto a discutir, vide a confusão provocada pelos egoísmos - franceses e holandeses -.
Sinto-me confortável por pensar que os meus ainda vizinhos espanhóis não foram na conversa.

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