domingo, julho 17, 2005

Campos e Cunha it´s not dead - parte 2

Mas o mais surpreendente no artigo de Luís Campos e Cunha é a referência à qualidade do investimento público, como um dos vectores essenciais para a sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas. Palavras actuais, pouco tempo depois da apresentação do Programa de Investimentos em Infra-Estruturas Prioritárias (PIIEP) que deverá custar perto de 25 milhões de euros:
"(...) Uma boa decisão de investimento impõe a necessidade de uma análise prévia de rendibilidade. Por exemplo, quando se investe numa frota de carros de aluguer (despesas de investimento) não podemos esquecer que, no futuro, devemos fazer a sua manutenção (despesa corrente futura) e ter clientes que suportem a despesa corrente e a amortização do investimento (qualidade do projecto de investimento). Este simples exemplo chama a atenção para a difícil mas necessária selecção dos projectos de investimento. Caso contrário hipotecamos, gastando em investimento, o presente e comprometemos o futuro com prejuízo de exploração. O mesmo se passa com o investimento público".
Totalmente de acordo.
Só há uma pequena incongruência entre o discurso do ministro das Finanças e o discurso do primeiro-ministro. Enquanto este, através do PIIEP, anúncia a construção do novo aeroporto da OTA (3 mil milhões de euros) e do TGV (14 mil milhões de euros), totalizando um investimento de 17 mil milhões de euros (3,4 mil milhões de contos), sem fazer uma "análise prévia da rendibilidade", Luís Campos e Cunha, o homem que manda no Orçamento, diz ser necessário analisar melhor os números.
Certo é que não se pode anunciar um investimento de 3,4 mil milhões de contos sem estar definitivamente acordada com Espanha, no caso do TGV, os locais exactos de conexão com a rede espanhola; sem que tenha sido definitivamente decidido se o TGV será de transporte misto passageiros/mercadoria ou se será exclusivamente de passageiros; sem que se diga aos cidadãos que na OTA só se pode construir duas pistas, ficando a capacidade do aeroporto limitada a 30 milhões de passageiros/ano; sem que se saiba ao pormenor, porque não há nenhuma proposta em cima da mesa, a capacidade financeiras e o interesse dos privados pelas parecerias com o Estado; e, mais importante que tudo, sem que as negociações sobre perspectivas financeiras da União Europeia, interrompidas na última cimeria da presidência luxemburguesa, estejam concluídas.
Ou, segundo as palavras de Campos e Cunha, sem que se saiba, porque não há nenhum estudo feito sobre isso, a taxa de rendibilidade do TGV e da OTA.
O TGV dá lucro? A OTA aguenta mais de 15 anos?
Ainda não há respostas a estas perguntas. Sabem porquê? Porque antes vão ser gastos mais de 650 milhões de euros (130 milhões de contos) em estudos sobre a OTA e outros tantos milhões em estudos sobre o TGV, sendo que certo que um novo aeroporto internacional de Lisboa é estudado desde o tempo de Marcello Caetano, e a alta velocidade desde o fim dos anos 80. Mesmo assim, ainda há mais estudos para fazer. As empresas de consultoria e de advogados agradecem.
Mas, não há problema. O que interessa é animar a economia com anúncios folclóricos. Pode ser que alguns investidores ganhem confiança e invistam.

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