Confesso que, depois de ler a resposta do João Morgado Fernandes (JMF), continuo estupefacto com os argumentos utilizados. A carreira de jornalista de JMF merece-me respeito, e, precisamente por isso, a minha incredualidade permanece.
Seja como for, aqui está a minha contra-resposta:
1 - Começando pelo menos importante. Na questão do alargamento escrevi sempre sobre o sub-lanço de Aveiras/Santarém. Nunca sobre o sub-lanço Alverca/Aveiras. Este já tinha três faixas em 2001. O de Aveiras/Santarém só passou a ter três faixas a partir deste ano. No entanto, ambos poderão necessitar de um alargamento para quatro faixas, por causa do aeroporto da OTA.
2 - Confesso-te, João, que me impressionou, desculpa a redundância, o ataque que fizeste à ciência. Afirmar que os "argumentos técnicos se destinam a sustentar uma tese prévia" e que, na questão da OTA, "a ciência é posta muito rapidamente ao serviços das convicções", é uma falácia dantesca que só poderia provir - caso eu não soubesse antecipadamente, por muito que não te conheça, que não provém - de radicais. Em temáticas como o aborto, já se ouviram argumentos semelhantes a fundamentalistas religiosos.
3 - Aliás, João, quem escreve a seguinte frase és tu, não sou eu: "prefiro, por isso, ficar-me pela apreciação da espuma da decisão política. E, face às indecisões de décadas, confio nas decisões do presente. E volto a insistir - confio porque decidi confiar e não por ter feito qualquer estudo sobre a matéria". A tua legítima "confiança nas decisões do presente" quase que se assemelha a uma fé.
4 - Lamento João, mas no meu caso não há nenhuma "tese apriorística". Por acaso, e só para que saibas, no início da discussão quase clubística "Rio Frio/OTA" até era a favor desta última. Mudei de opinião depois de ter lido e falado com técnicos que me demonstraram, de forma fundamentada, o contrário.
Além do mais, caso tu não tenhas lido, eu sou a favor da construção de um novo aeroporto internacional de Lisboa. Do que discordo é da localização na OTA e do "timing" do anúncio.
Desculpa, João, não "confio" como tu. Tens o direito de ter decidido em confiar. Mesmo que seja cegamente. Tal como eu tenho o direito de não confiar.
No que diz respeito à localização, já expliquei porquê. Quanto ao "timing" porque, em primeiro lugar, ainda não foram concluídas as negociações sobre as perspectivas financeiras da União Europeia - logo, não sabes o volume dos apoios que poderás receber da UE.
Depois, meu caro, o país vive uma situação difícil em termos orçamentais. Ainda não vi fundamentados - como tu ainda não viste, apesar da "confiares" - por "A" mais "B" como é que o crescimento da economia portuguesa será promovido com a OTA. Ou seja, como é que os mais de, para já, 3 mil milhões de euros vão ser rentabilizados. Isto é, como é que a OTA exponenciará o crescimento económico.
5 - Não podes basear a construção de um aeroporto noutra coisa que não os estudos dos técnicos das diversas engenharias em causa. A não ser que desejes que os investimentos de milhares de milhões de euros sejam decididos, simplesmente, por molhar o dedo indicador, pô-lo ao vento e decidir: "sim senhor, não há vento. Pode ser aqui".
6 - Falas em teorias conspirativas sobre a OTA. Parece-me que te enganaste no destinatário. Mas, já agora, agradecia que me dizesses onde está a minha tese de cabala.
Será conspirativo escrever, ironicamente, que as empresas de construção cívil adorarão obras como a OTA, não só pela sua dimensão orçamental como também pelas dificuldase geológicas e hidrográficas inerentes ao próprio projecto? Se achas isso conspirativo, faz-me um favor: descobre uma grande empresa de obras públicas portuguesa que seja contra a OTA ou o TGV? Se conseguires descobrir, tens uma notícia.
7 - Mas, sinceramente, o mais grave é quando escreves que dispensas de "sequer de tentar ler os famosos estudos". Confesso-te que a tua confiança cega, perturba-me. Ler que um jornalista prefere viver na ignorância, porque "confio nas decisões do presente", é extremamente perturbador.
Não estão em causa convicções ou opiniões políticas. Essas, sejam elas quais forem, são legítimas. Não é isso.
O que me perturba é que tu prefiras viver na ignorância, porque "confias no presente". Fazes-me lembrar os cavaquistas anónimos da primeira metade dos anos 90 que não queriam saber dos monstruosos desvios financeiros da construção das novas auto-estradas, porque, precisamente, "confiavam no presente".
8 - Só para terminar, aconselho a leitura deste artigo, publicado no "Diário de Notícias".
Os melhores cumprimentos
Seja como for, aqui está a minha contra-resposta:
1 - Começando pelo menos importante. Na questão do alargamento escrevi sempre sobre o sub-lanço de Aveiras/Santarém. Nunca sobre o sub-lanço Alverca/Aveiras. Este já tinha três faixas em 2001. O de Aveiras/Santarém só passou a ter três faixas a partir deste ano. No entanto, ambos poderão necessitar de um alargamento para quatro faixas, por causa do aeroporto da OTA.
2 - Confesso-te, João, que me impressionou, desculpa a redundância, o ataque que fizeste à ciência. Afirmar que os "argumentos técnicos se destinam a sustentar uma tese prévia" e que, na questão da OTA, "a ciência é posta muito rapidamente ao serviços das convicções", é uma falácia dantesca que só poderia provir - caso eu não soubesse antecipadamente, por muito que não te conheça, que não provém - de radicais. Em temáticas como o aborto, já se ouviram argumentos semelhantes a fundamentalistas religiosos.
3 - Aliás, João, quem escreve a seguinte frase és tu, não sou eu: "prefiro, por isso, ficar-me pela apreciação da espuma da decisão política. E, face às indecisões de décadas, confio nas decisões do presente. E volto a insistir - confio porque decidi confiar e não por ter feito qualquer estudo sobre a matéria". A tua legítima "confiança nas decisões do presente" quase que se assemelha a uma fé.
4 - Lamento João, mas no meu caso não há nenhuma "tese apriorística". Por acaso, e só para que saibas, no início da discussão quase clubística "Rio Frio/OTA" até era a favor desta última. Mudei de opinião depois de ter lido e falado com técnicos que me demonstraram, de forma fundamentada, o contrário.
Além do mais, caso tu não tenhas lido, eu sou a favor da construção de um novo aeroporto internacional de Lisboa. Do que discordo é da localização na OTA e do "timing" do anúncio.
Desculpa, João, não "confio" como tu. Tens o direito de ter decidido em confiar. Mesmo que seja cegamente. Tal como eu tenho o direito de não confiar.
No que diz respeito à localização, já expliquei porquê. Quanto ao "timing" porque, em primeiro lugar, ainda não foram concluídas as negociações sobre as perspectivas financeiras da União Europeia - logo, não sabes o volume dos apoios que poderás receber da UE.
Depois, meu caro, o país vive uma situação difícil em termos orçamentais. Ainda não vi fundamentados - como tu ainda não viste, apesar da "confiares" - por "A" mais "B" como é que o crescimento da economia portuguesa será promovido com a OTA. Ou seja, como é que os mais de, para já, 3 mil milhões de euros vão ser rentabilizados. Isto é, como é que a OTA exponenciará o crescimento económico.
5 - Não podes basear a construção de um aeroporto noutra coisa que não os estudos dos técnicos das diversas engenharias em causa. A não ser que desejes que os investimentos de milhares de milhões de euros sejam decididos, simplesmente, por molhar o dedo indicador, pô-lo ao vento e decidir: "sim senhor, não há vento. Pode ser aqui".
6 - Falas em teorias conspirativas sobre a OTA. Parece-me que te enganaste no destinatário. Mas, já agora, agradecia que me dizesses onde está a minha tese de cabala.
Será conspirativo escrever, ironicamente, que as empresas de construção cívil adorarão obras como a OTA, não só pela sua dimensão orçamental como também pelas dificuldase geológicas e hidrográficas inerentes ao próprio projecto? Se achas isso conspirativo, faz-me um favor: descobre uma grande empresa de obras públicas portuguesa que seja contra a OTA ou o TGV? Se conseguires descobrir, tens uma notícia.
7 - Mas, sinceramente, o mais grave é quando escreves que dispensas de "sequer de tentar ler os famosos estudos". Confesso-te que a tua confiança cega, perturba-me. Ler que um jornalista prefere viver na ignorância, porque "confio nas decisões do presente", é extremamente perturbador.
Não estão em causa convicções ou opiniões políticas. Essas, sejam elas quais forem, são legítimas. Não é isso.
O que me perturba é que tu prefiras viver na ignorância, porque "confias no presente". Fazes-me lembrar os cavaquistas anónimos da primeira metade dos anos 90 que não queriam saber dos monstruosos desvios financeiros da construção das novas auto-estradas, porque, precisamente, "confiavam no presente".
8 - Só para terminar, aconselho a leitura deste artigo, publicado no "Diário de Notícias".
Os melhores cumprimentos
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