quarta-feira, julho 13, 2005

O Estado das Coisas II



É assim que me sinto ao pensar no actual estado da nação (e do mundo, mas vou-me ficar pela nação) nos últimos tempos! Num cenário tétrico de tempestade, assombrado por um sinistro Mr. Burns que me espreita, espia e abomina, sem que eu saiba ao certo o que ele quer de mim para que desapareça de uma vez por todas da minha vista.

Os tópicos: OTA, TGV, Central Nuclear em Portugal, o preço do petróleo, o défice… Pelos vistos nada de muito novo nos últimos tempos. Todas questões sérias e de relevo, sem dúvida! O que me incomoda não são as questões em si, mas a forma mais ou menos teórica e aparentemente inocente (para não dizer aparvalhada) como as tenho visto serem tratadas e discutidas por quem, supostamente percebe e manda no assunto.

Manobras de charme à parte, refiro-me à OTA e ao TGV, acho que a ideia da Central Nuclear é acima de tudo um risco. Ontem, numa discussão amigável, o meu oponente defendia a construção da mesma como algo positivo porque passados vinte anos do gravíssimo acidente de Chernobyl, a tecnologia evoluiu bastante, tornando uma Central Nuclear muito mais segura hoje em dia e a mesma resolveria cerca de 40% das necessidades de consumo de electricidade do nosso país. Pode ser que sim. Mas na minha modesta opinião, em primeiro lugar passaremos a ter um excelente alvo de atentados terroristas, em segundo seja por que razão for, um acidente nuclear em Portugal (isto caso não haja um em Espanha primeiro, na central mais próxima da nossa fronteria, que iria dar no mesmo mas com a vantajem de ao menos morrermos de consciencia tranquila) significaria, dada a escassa extensão do nosso território, uma sentença de morte, à qual apenas escapariam os futuros mutantes portugueses e aqueles que atempadamente conseguissem fugir para as ilhas, ou para o estrangeiro (refiro-me evidentemente a toda a classe politica, alguma da empresarial e os responsáveis pela Central Nuclear, que certamente seriam os primeiros a ser avisados e evacuados em caso de acidente).

Se a questão é também o preço do petróleo, numa situação “apertada” como é a actual devido ao défice e a tudo o que este acarreta, deixem-me dizer desde já que nunca vi um país pobre ter ideias tão pobres como o nosso! A questão aqui é a seguinte, normalmente, os países pobres têm ideias brilhantes de modo a colmatar ou contornar a sua pobreza. São movidos pelo “engenho” a encontrar alternativas e a aproveitar os seus recursos específicos de modo eficaz e exemplar. Mas cá não. A malta gosta demasiado da mama para mexer o cu!

Num país (Portugal, só para que não hajam dúvidas) em que actualmente os carros movidos a diesel representam cerca de 60% das vendas, em que as frotas de camionagem são compostas por veículos movidos a diesel, assim como a grande maioria das máquinas agrícolas, vive-se o estrangulamento causado pelo preço do petróleo como se fosse o fim do mundo e não houvessem quaisquer alternativas. Pois eu não sei quais são os limites da estupidez ou da ignorância ou até da má vontade da nossa classe política, mas certamente que todos eles já ouviram as palavras mágicas: BIODIESEL! O Biodiesel, para quem não saiba, pode ser obtido de duas formas. A primeira das quais representa uma solução absolutamente genial para um problema gravíssimo em termos ambientais. Trata-se da reciclagem de óleos usados. Que óleos? Os das cozinhas em nossa casa, dos restaurantes, enfim, qualquer óleo de origem vegetal que tenha feito umas frituras. Sendo que os mesmos ao serem lançados ao “esgoto” vão poluir os rios, entupir as ETAR e matar uns milhares de peixes e outras formas de vida subaquática, sendo também que o tempo de degradação do óleo é muito extenso, que melhor ideia poderá existir do que transformar um verdadeiro veneno para o planeta em combustível para os nossos carros? Ainda por cima, os gases emitidos pela combustão do Biodiesel, são facilmente absorvidos pela natureza de uma forma quase total devido à sua origem vegetal, ao contrário dos combustíveis de origem fóssil. A segunda alternativa é fabricar o Biodiesel a partir de óleos virgens. Assim poderíamos “plantar” o nosso combustível, mas perde-se quanto a mim a questão mais interessante que é a da reciclagem. Só mais uma nota, todos os motores diesel de última geração estão preparados para aceitar 100% Biodiesel puro, ao passo que os mais antigos necessitam de uma mistura com Diesel convencional. Ora digam lá se não é enervante morrer de sede à beira de água?

Outra: Portugal deve ser o, ou pelo menos um dos, países da Europa com maior exposição solar anual. Onde é que se encontram PAINÉIS SOLARES? Em meia dúzia de sítios. Existe alguma lei que obrigue a sua aplicação em qualquer tipo de construção habitacional ou institucional? Pelo que observo presumo que não. Com a gigantesca factura que pagamos pela energia eléctrica, pergunto se fará sentido construir uma Central Nuclear antes de esgotar os recursos e as vantagens naturais de dispomos dada a nossa localização geográfica. Muitos países nórdicos e da Europa central fazem uso da energia solar usando o pouco sol a que têm direito e nós, que é lá isso… A malta gosta é de petróleo, de Centrais Nucleares, de quexinhas e sofrimentos, agora pensar e trabalhar… Tá quieto!

2 comentários:

Anónimo disse...

Talvez tenhas alguma razão!!

Afonso Henriques disse...

Faz todo o sentido que um país que encara o problema dos incêndios como um um fenómeno meteorológico sazonal, previsível e insolúvel, prefira construir centrais nucleares a investir na energia fotovoltaica, eólica, das marés (afinal sempre são 1400 km de costa...)e no BIODIESEL.
Infelizmente.